quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que você fez neste ano ?

Dizem que o tempo não existe... Que o homem o inventou com a finalidade de melhor aproveitar o trabalho diário. Porém , mesmo que esteja cientificamente provado que ele não existe, temos visivelmente provas do nascer de um novo dia, do seu término e da noite que surge mansamente como um bálsamo para que descansemos, recobremos a energia e coragem para desempenharmos nossas tarefas intermináveis enquanto tivermos vida para viver.
Estes dias e estas noites que vão se passando cheios  de acontecimentos de toda a sorte, vão se agrupando em um ano que fatalmente morre, coincidentemente ou não, com a festa de Natal, último evento glorioso do qual participamos.
Para muitos, uma festa familiar, para outros solitária, para alguns de paz, para tantos de tristeza...
Na primavera da existência, o Natal é mágico, repleto de alegria e de presentes quando todos são a grande maioria que se reúne em torno a uma mesa de refeição.
No outono da vida,  a sensação desta festa já não pode ser sentida desta forma: as perdas sofridas no decorrer dos anos dá ao acontecimento um sabor nostálgico que  apresenta um quadro de saudade e solidão quando são poucos ou quase ninguém  a se reunir e confraternizar o fim de mais um ano.
No entanto , a despeito de tudo que nos acontece,ouvem-se canções natalinas propagando mensagens maravilhosas que propõem um balanço de tudo o que fizemos durante um ano...E apesar de toda a tristeza, há no ar e nas melodias desejos de Feliz Natal, como se isto fosse possível através do aperto de um botão...





 A pergunta deveria ser: o que você não fez este ano?
Ao observar as ruas e avenidas movimentadas da cidade veem-se pessoas de todos os tipos e classes sociais, bem-vestidas, maltrapilhas, alegres, tristes, esperançosas, desiludidas...
Todos, com raríssimas exceções, à procura de lojas para que gastem suas economias em presentes para aqueles que lhe são caros, ou em artigos de consumo para que possam estar bem-vestidos para ceia e almoço de Natal.
Todas as festas, independentemente ou não de ser a de Natal, são voltadas para o consumismo em larga escala onde aquele menos favorecido economicamente se vê totalmente discriminado numa festa que se diz religiosa para louvar o nascimento do ser mais humilde que já pisou na face da Terra... A tremenda ironia aí se revela, pois a maior preocupação deste dia para a grande maioria é poder exibir roupas e sapatos de grife, ostentar uma mesa farta digna de um rei.
Se todos se preocupassem a perguntar a cada ano que morre o que deixou de fazer de bom durante tão longo período, as mudanças necessárias certamente seriam realizadas individualmente e no mundo todo haveria uma revolução coletiva a favor do bem.
Este ano não me lembro de ter agradecido suficientemente pela minha saúde e a de todos os que me são caros, enquanto muitos não puderam ter essa felicidade.
Creio que também não fui grata o bastante perante as oportunidades de trabalho extra que consegui ao decorrer de 2010, fato que me possibilitou uma complementação de renda e consequentemente um padrão de vida mais digno.
Não me lembro de ter ficado feliz e ter louvado como devia o fato de todos os meus, incluindo a mim, saírem e voltarem para o nosso lar sãos e salvos quando outros não tiveram a mesma sorte.
Também pelos sonhos que se perderam nessa estrada e que me fizeram aprender tanto na escola da vida...
Agradecer pelos amigos que consegui manter, amigos novos dos quais consegui me aproximar,amigos antigos que voltaram a minha convivência.
Pelo amor e compreensão recebido dos filhos através de cada gesto, de cada palavra, de cada ação ou pedido...
Agradecer tem sido uma constante em minha vida, porém era preciso muito mais:
Pelo amor conjugal de quase quarenta anos, uma eternidade! É preciso agradecer neste momento em que o ano termina, desejando que sempre seja assim, e não quando nada mais restar depois do vendaval.
Por este anjo de candura que chegou ao nosso lar neste ano, minha querida netinha Sara.
É preciso que ainda ajude mais as pessoas que de mim necessitam, oferecendo humildemente aquilo que posso dar.
Olhar mais nos olhos de todos que de mim se aproximarem compartilhando seus sentimentos e necessidades.
Uma coisa de que preciso muito é conviver mais com aqueles que são meus amigos, promover encontros saudáveis e alegres desafiando o pouco tempo que tenho que deve ser preenchido com a qualidade da boa convivência.
Entregar-me mais à música e ao seu estudo como forma de aprimorar meu espírito e me aproximar mais de Deus.
Aplacar um pouco a desconfiança, desfazer o ceticismo total para ganhar um pouco de paz espiritual.
Contemplar mais a natureza e tudo o que ela tem para oferecer.
É preciso antes de mais nada: aprender a perdoar, oferecendo uma lição de vida em troca de cada insulto, ou coisa que me incomoda, mudando esta atitude para outra mais positiva...
E o mais importante: preencher, como dizia Kipling,  o implacável minuto com 60 segundos dignos de uma corrida de velocidade. E ainda diria mais: preenchê-lo com amor, amizade e compreensão para que tenha cumprido minha missão nesta Terra...



quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O outro lado da moeda...

Agora já é quase que tocável a noite de Natal. Muitas pessoas correndo pelas ruas como formigas atrás do açúcar, desculpem a comparação, mas o desespero para satisfazer a vontade de todos é grande neste instante e, aqueles que trabalham sem até o presente momento terem tempo de comprar seus presentes, aproveitam os minutinhos de descanso para se aventurarem   mesmo "singing in the rain" para levarem   para sua árvore de Natal os mimos que garantirão a alegria de todos. Já é quase possível apurar o olfato e adentrar dentro dos milhares de lares espalhados pelo mundo todo e sentir os mais doces aromas natalinos. Por mais simples que seja a morada haverá algo de diferente para saborear e diferenciar este dia dos demais.
Muitos, mais privilegiados, já agendaram suas viagens seja ela por terra, via aérea ou por mar...
E a hipótese de poder obter um colírio para os olhos fotografando a paisagem marítima e sentir a brisa agradável através do convés de um navio tem altos custos atualmente. Não que seja uma viagem economicamente dispendiosa, mas correm-se riscos ao tentar sair de casa para uma viagem deste tipo.
A pirataria voltou com todo o vapor dos séculos passados para a atualidade, navios são alvos de assaltos que engordam os olhos pirateiros ao vislumbrar o grande rebanho de pessoas reunidas em um edifício ao sabor e a solidão dos mares...
Muito lindos os transatlânticos, quer sejam vistos durante a noite ou de dia, mas para aqueles que não param de pensar, seguramente não há   mais a tranquilidade como sua companheira de viagem. Sabem que vão à mercê da sorte, e dependendo do poder econômico dos passageiros que ali se encontram o risco é maior e a despeito de seguranças e armas possantes,sabem que o perigo ronda os oceanos...
Mas não é apenas nas águas  que vemos estes personagens. Muitos cidadãos honestos querem levar de presente para seus filhos um jogo de video-game,  um CD musical ou de desenho, a febre que devora esta nova geração.
Aliás, é sobre pirataria o meu tema deste post. Ela tem sido debatida e combatida pelos quatro cantos, condenada e julgada criminosa por aqueles que veem seus direitos violados... Mas,  paremos um pouco para pensar: Por que razão tudo isto vem acontecendo ultimamente?






Países ricos, de primeiro mundo,há muito vêm impondo de maneira maciça sua tecnologia aos outros menos desenvolvidos.
De certa forma, tal fato chega a ser desumano para se falar com franqueza: nações totalmente carentes de elementos básicos como Alimentação, Saúde, Educação tendo que adquirir produtos de informática a altos preços sob a alegação de que o mundo mudou e todos devem inserir-se no novo contexto da globalização. Deste modo, apenas para exemplificar, no setor educacional escolas sem o mínimo conforto em suas salas de aula, "recebem" uma sala de informática exígua, sem verba suficiente para manter as máquinas que ali estão, onerando em dívidas os países que financiam todo este aparato dos países economicamente favorecidos, ficando deles mais dependentes do que já eram. Esta dívida só tende a crescer, pois os programas, os chamados softwares,que são a alma que dará vida a esses aparelhos são vendidos a preços totalmente inacessíveis e praticamente impossíveis de serem adquiridos pelo cidadão que em sua maior parte nem computadores tem   condição  de possuir. Num contexto social de pobreza, desemprego e superlotação urbana surge uma verdadeira indústria paralela que mostra o reverso, o outro lado da moeda: a pirataria em pleno século XXI. À semelhança do século XVI onde elementos à margem da sociedade de seu tempo saqueavam os navios em alto-mar para apoderarem-se de riquezas, hoje, esses piratas do asfalto clonam com habilidade criminosa todos os meios de multimídia: de programas de computadores a CDS. O fato é que esse mercado vem crescendo, tomando proporções assustadoras causando aos seus criadores, que são os detentores dos direitos de posse sobre o produto,imensos prejuízos financeiros e morais.
Todas as situações revelam seus prós e contras; se por um lado a tremenda falta de ética e desonestidade estão presentes a essa ação, há a possibilidade de que a pirataria traga ao cidadão mais pobre  a possibilidade de poder conviver com a tecnologia e a informatização do primeiro mundo. Como esta situação vai culminar pode-se já vislumbrar através das constantes ameaças de sanções econômicas e sociais que os países infratores sofrerão. Um outro problema desencadeado através da pirataria e não menos grave é  que o comércio  de ilegais gerou uma forma de trabalho, um subemprego aos indivíduos que o comercializam como produto alternativo e dele sobrevivem.Grande número de chefes de família sem a consciência necessária para discernir,sustentam seus lares e, muitos deles reproduzem de maneira grosseira em seus próprios lares os tais produtos paralelos. Muitas vezes indiciados, têm sua mercadoria apreendida, o que leva ao desespero pais que custeiam suas despesas realizando essa transação ilegal agindo sem conhecimento de causa.
É provável que se a pirataria terminar levará com ela as chances de familiarização dos produtos informatizados no terceiro mundo.




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O pedestal

Fazendo compras nas proximidades da rua 25 de março, senti-me num inferno em vida. Calor sufocante já logo pela manhã, gente, gente e mais gente... Não se sabe como as pessoas se proliferam pelos quatro cantos daquelas imediações e  o que é pior, pessoas sem qualidade, sem a educação e o perfil de organização necessários para conviver com tremenda aglomeração em tão exíguo espaço.Ruas que há muito deveriam ter sido transformadas em calçadões para os pedestres que são a maioria no local, entupidas de carros que se amodorram em uma terrível marcha lenta tentando ganhar espaço e avançar a seu destino; muitos deles ainda se aventurando em estacionar nos locais garimpados pelos flanelinhas do lugar. Em sintonia com toda esta movimentação, um barulho ensurdecedor invade o ar, seja pelas músicas dos Cds pirateados que continuam, a despeito das batidas policiais, sendo comercializados, gritos de camelôs que tentam a todo custo chamar a atenção das pessoas para que comprem  seus produtos, apitos que ecoam "hei, titia" arrepiando até os cabelos do ser mais calmo deste planeta, fogos, os iluminadores, sendo queimados em plenas ruas...
Como que para poder acalmar-me um pouco,  procuro ignorar toda esta parafernália local e assobio mentalmente a jóia musical de Ernesto Nazareth, o nosso Chopin brasileiro, a valsa "Coração que sente" e a mentalizo tocada pelo bandolim e não pelo piano como sempre a interpreto, porque aquele instrumento tem o poder de me fazer voar até a década dos  20 quando foi criada e  a despeito de não ter vivido nesta época, reside em mim a certeza de que tenha sido muito mais agradável de que esses tempos malucos onde ninguém respeita ninguém.
Caminhando pela calçada procurando por loja de brinquedos, passei por uma loja que vendia pedestais... Aqueles relógios imensos de madeira, que batem solenemente as horas tão fortemente marcadas como a melodia dos sinos...
Bastou apenas um olhar e...



Tempus fugit...



Lembrei-me de 15 anos atrás, era então por volta de 1995, mais ou menos, talvez antes...Minha cabeça já não consegue precisar ao certo. Você me telefonara daqui de São Paulo para a cidade de Rio Claro onde então residia já há 8 anos:
-Alô, filhinha, como está?
Sua voz misturava-se com os mais diversos  sons dos relógios da loja para a qual vendia; sons musicais de carrilhões, cucos, pedestais.
-"Pai, que bom te ouvir", foi o que pensei, mas minha voz respondeu: Tudo bem. E a mãe, meu irmão?
-Estão todos bons. E meus netinhos, o Leonardinho, a Bicudinha? Ai , que saudades estou deles...
-Estão crescendo a olhos vistos, pai. Quando vocês vêm para cá?
-Não sei, filha, mas breve irei visitá-los.Estou te ligando para saber o que quer ganhar de Natal.
-Ah, pai, não se incomode não...
-Faço questão...Eu queria te dar um relógio, sabe...- falava com a voz já meio ofegante pela doença que o consumia.
-Estou vendendo um carrilhão que é muito bonito, mas o que eu adoraria mesmo, é te presentear com um pedestal daqueles de madeira, são muito lindos.
Neste exato momento, seja por coincidência ou não, soaram graves as badaladas do pedestal da loja numa música séria que calavam fundo na alma.
-Mas, pai, este relógio deve ser caríssimo, pelo que o senhor fala, enorme e de madeira...
-Faço questão, não sei se vou conseguir te dar exatamente um pedestal, porém, se não for possível, um carrilhão ou outro de parede, você aceita?
-Claro, pai. "Não precisa ser pedestal, qualquer presente vindo de você é maravilhoso", era o que deveria dizer, entretanto respondi: obrigada.
Com a voz confundindo-se entre a música das horas, ouvi ainda meu pai me descrevendo o pedestal que ele achava fino, elegante fazendo-me achar uma pessoa muito importante, pois era o relógio mais caro da loja para a qual trabalhava. E era feito em madeira de cerejeira, embuia podendo ter detalhes entalhados artisticamente ou não.
Sei que não foi possível, meu querido pai, dar-me de presente o seu lindo pedestal. Sei também que todo o esforço que fizestes carregando com seu frágil corpo a pesada mala de catálogos e mostruários, não te possibilitaram realizar a tua vontade, contudo, ainda continua marcando as horas incansavelmente na minha parede da copa aquele relógio que me destes de presente de Natal. Continua ainda brilhando o painel dourado onde  as letras pretas dizem: "O senhor é meu pastor, nada me faltará", frase que até certo ponto retrata a ironia do destino ao sugerir que perder um pai não é uma falta, uma perda incalculável que jamais poderá ser reposta ou esquecida.
Saiba,  que, de onde estiveres, na distância espiritual de anos-luz, que nunca deixei de te amar, de reconhecer todo o sacrifício feito por mim.Quero que saibas que aquele relógio que marca minhas horas com o qual me presenteaste é o mais lindo pedestal que jamais alguém recebeu pelo valor que ele encerra, é cuidado como o mais precioso dos tesouros porque foi-me dado pelas tuas mãos que tanto sofreram para dar tudo de si, sem nada receber em troca.
Vejo-me no caminho de volta para casa, dentro do ônibus quase vazio, já saí do inferno e passei pelo paraíso.



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dar a outra face...

Mais uma postagem que compõe meu álbum de esparsos literários.Pode este texto parecer muito contraditório a alguns que já tenho postado anteriormente, mas é hora de reciclagem, um novo ano se aproxima, sabemos que, exteriormente, apesar de que nada ou quase nada mude de um ano para outro, precisamos fazer um balanço de tudo o que vivemos durante estes 365 dias e tentar separar nossas atitudes positivas e negativas, coerentes e incoerentes, certas ou erradas para com as situações e pessoas  que enfrentamos no nosso  cotidiano. Acredito ser esta uma questão vital para que acertemos ou erremos nos relacionamentos vindouros e que possamos sempre com esta atitude, além de construir uma boa imagem,nos amarmos  mais a cada dia,  fator principal em nossa existência aqui na Terra...
Pode não parecer...Mas isso é uma oração. Brotou do fundo d'alma e das batidas do coração.
Quando rezamos, procuramos sempre ter uma imagem forte, que não precisa necessariamente ser a imagem de um santo. A natureza por si só é a representação divina por excelência, pois representa o poder do criador. Com toda sua exuberância, mostra-nos a nossa pequenez diante da criação onipotente.
E o mar... Representa toda a fúria e o esplendor ao mesmo tempo em que nos transmite uma sensação de paz trazida pelo ritmo e pelo rumor cadenciado das águas que retratam sempre as cores do céu.
E é com essa visão do oceano ao quebrar nas areias da praia é que inicio o minha súplica. Já não peço por saúde, dinheiro, paz, ou mudanças significativas em minha vida para o novo ano que se avizinha.



Peço para que não seja tão presente àqueles que não reconhecem ou valorizam a amizade sincera.
Que eu saiba ser menos humilde do que sempre me ensinaram, belas lições para um mundo mais antigo e mais justo; e me esforce para ser pelo menos um pouco mais vaidosa e orgulhosa à imagem dos homens modernos que só valorizam o dinheiro e os bens materiais.
Que eu consiga, meu Deus, pelo menos um pouco de maldade para cogitar da vida alheia o que nunca aprendi a fazer, como forma de sobreviver e ter a supérflua vida social que todos praticam ultimamente...
Que eu não esteja sempre tão disponível a favores pedidos nunca sinceramente valorizados, como meio de construir uma imagem mais forte e mais poderosa perante a sociedade, pois infelizmente não é verídica a frase: é dando que se recebe. Socialmente ela foi trocada por Quanto mais se TEM, mais se recebe e quanto mais se É menos valor se tem...
Que, sobretudo, eu consiga  ter o mínimo de artificialidade e futilidade para tornar-me igual a meus pares que valem mais pelo que compram, pelo que vestem, pelo que calçam e nunca pelo que são...
É preciso não confiar tanto, não acreditar profundamente no amor e na amizade como costumava fazer, antes de tudo é necessário forças para mudar e tomar conhecimento de  que (me perdoem as raríssimas exceções) há muito, a sinceridade e a franqueza foram substituídas pela maledicência e a inveja!
Acima de tudo, senhor,  faça com que consiga um pouco de desprendimento da ética e dos bons valores para que possa pelo menos aceitar e conviver com as novas mudanças onde o que era certo é errado e o que era errado é certo, como forma de me inserir na sociedade atual.
Que eu possa me manter tranquila e em paz com minha consciência, sem cultivar o espírito de luta contra as injustiças da vida que são a nova ordem deste mundo onde não há mais dignidade e retidão de caráter.
E que eu não valorize tanto o amor, artigo de segunda categoria para a humanidade que nos rodeia...
Que eu perca de vez a esperança em dias melhores que a cada dia se tornam mais impossíveis e distantes.
Ah! já ia me esquecendo...Que eu perca o meu jeito simples e franco de ser, pois hoje ele é demodê e  não oferece um status de destaque perante os homens, antes, diminui a minha imagem, que é ignorada pela grande maioria.
Ajuda-me a não ter essa imensa vontade de ajudar a todos e de trabalhar incansavelmente, são coisas não valorizadas.
E para terminar, meu pai, que eu pare de vez de oferecer a outra face, que eu reúna forças para me defender e revidar à altura cada pedra que me atiram...
Que eu aprenda, senhor, a ser menos idiota no ano que se aproxima. Amém.


sábado, 27 de novembro de 2010

Neste Natal...

Amigos, mais um ano que agoniza. Já estamos vislumbrando as cortinas de dezembro, o último mês do ano e só agora é que me dei conta de que o Natal se aproxima. Em meio a esta loucura em que vivemos, nunca me sobra tempo para com calma fazer os preparativos para data tão significativa. Antes, trabalhava e lecionava até as vésperas da última  comemoração do ano, décimo-terceiro quase que no dia natalino, sem deixar chance para nada, pois sem dinheiro nada se faz. Além do mais, notas para fechar, diários de classe por encerrar, conselho de classe e tantas coisas que a árvore de Natal era sempre feita às pressas da mesma forma que toda a preparação para a festa.
Mas hoje... Aposentada, continua tudo como dantes, a correria, afazeres domésticos, ajuda aos filhos e neta substituíram as aulas e ocupam quase que todo o meu tempo de modo que "hoje" é que armei a minha árvore de Natal. Fi-lo com calma, com gosto, abandonando para isto vários afazeres.
Não sei se esta falta de tempo que temos hoje é o mal do século, ou se acontece apenas comigo, acredito sinceramente na primeira opção. Escravos do relógio é o que somos e seremos sempre. Pelo menos aqueles que têm a responsabilidade de administrar um lar e que não contam com ajudantes como  no meu caso.
A princípio, comecei a montar a árvore sem nada pensar, separei o cachepô, o pinheiro artificial, os ornamentos, as luzes e iniciei minha tarefa...





Quando fixei a árvore natalina no cachepô e amparei-a com pedras, pelúcias e pinhões já estava muito distante. Atravessei o momento presente como se tivesse entrado em uma máquina do tempo e me encontrei na velocidade da luz em outros natais.
Naqueles dias de festas para mim grandiosas, iluminadas, que cheiravam novidades e surpresas inesquecíveis: a espera do Papai-Noel, sempre tão querido e aguardado, os sapatos próximos à janela à espera do bom velhinho que nunca faltava. 
As crianças alvoroçadas em gritaria pela sala, as mães e avós nervosos com toda aquela excitação infantil. A grande árvore armada no centro da sala simples era o motivo de atração para todos. O cheiro dos quitutes invadindo o ar, as músicas tocadas na rádio-vitrola, personagem insubstituível da época, ao som da harpa de Luís Bordon,tudo contribuía para a magia da noite de Natal.
Que festas maravilhosas eram aquelas! Construídas com o entusiasmo e alegria da infância eram mágicas e inigualáveis!
Naqueles tempos, meu querido Papai- Noel, na minha pureza de criança, não conseguia avaliar o sacrifício que fazias para me dar um presente...Também não sabia quem eras na realidade!Desconhecia que para me dar felicidade muitas horas extras se fizeram necessárias e muitas horas de sono e descanso foram ali empenhadas.
Hoje, sei que meu Papai-Noel sonhou muito com um Natal melhor sem muitas vezes conseguir, sonhou com um presente muito mais caro que nunca conseguiu comprar, desejou-me muita saúde que durante longo tempo não chegou para deixá-lo feliz...
Sei das renúncias que fez a sua própria felicidade e bem-estar para poder me agradar. Sei também dos fracassos profissionais que tanto pesaram em sua personalidade delicada e humilde, como me lembro também da sua torcida por dias melhores, por sucesso em seu trabalho,que da mesma forma não aconteceram.
 Lembro-me,Papai-Noel, dos seus cálculos intermináveis para administrar seu parco salário para que pudesse nos dar um Natal feliz! Ah, se eu tivesse esta consciência naqueles dias de festa! Se soubesse do seu sacrifício,renunciaria a todos os presentes que te pedi para poupar o teu esforço. E no entanto,tudo o que precisava para ser feliz era a tua meiga presença que me dava tanto amor!
Neste Natal, como sinto a sua falta meu querido Papai-Noel! Não para te pedir um presente, mas apenas para sentir tua presença, conversar um pouco contigo, para que afagasse meus cabelos e te sentasses um pouco a meu lado como sempre costumavas fazer...
Neste Natal, sei que um pedido simples como este não pode ser satisfeito,ouvir tua voz é um sonho impossível , até mesmo lembrar do teu rosto torna-se difícil, ele se dissipou no tempo...Para toda a minha tristeza mal consigo me lembrar com precisão do seu sorriso sincero...
Enquanto colocava os ornamentos na árvore de Natal, sua presença se tornou tão forte... Aquelas bolas artesanais que vendias ainda remanescem comigo e estão a enfeitar a minha árvore hoje! Lembrei-me de que elas ficaram como forma de pagamento pelas comissões das vendas que não recebestes...
Cada ornamento natalino compunha em minha cabeça uma história da nossa vida.
Quantos sonhos sonhamos no decorrer de uma existência, sonhos bem sonhados e quase nunca realizados, desejos desejados e não conseguidos, vontades pretendidas e não alcançadas...
E apesar de todas as contradições continuamos a sonhar, com melhores Natais para nossos filhos, parentes e amigos. Ainda bem que ainda conseguimos sonhar! Felizes aqueles que sonham e idealizam um futuro melhor.
Neste Natal,vou continuar a desejar a todos um milhão de felicidades como sempre fez o meu querido Papai-Noel!




sábado, 20 de novembro de 2010

O lento perigo invisível

Amigos, as transformações desencadeadas  pela tecnologia  ocorreram paulatina, mas ininterruptamente. Dizem que o inimigo ataca quando o oponente dorme. E nas rodas do mundo, enquanto a maioria da humanidade fecha os seus olhos, as engrenagens das mudanças  se movem com uma velocidade incrível. O que assusta nas transformações que o homem pouco a pouco vem efetuando na natureza, é a sua capacidade de destruir o que é original e puro. Raciocinem um pouco comigo:





Fomos criados como simples animais privilegiados com uma inteligência ímpar que nos diferencia dos irracionais,o que dá o direito ao homem de criar, inventar, mudar o que já está pronto no universo que nos rodeia.
A princípio, mal nos sustentávamos como bípedes e corríamos como loucos em busca de alimentos, água e calor para nossa sobrevivência ensaiando algumas formas de enfrentar o inimigo como maneira de perpetuar a espécie e éramos felizes, porque tudo o que precisávamos para viver nos era outorgado pela mãe natureza: frutos, água pura, fogo, de forma que nada mais precisaríamos para continuar vivendo.
Mas, o ser, dizem racional, intelectualmente superior foi evoluindo. Evoluindo ou regredindo, isto é questão de opinião e ponto de vista. À medida que a  raça humana proliferava e aumentava a olhos vistos, já conseguia sobrepujar sobre os outros animais e exercer perfeito domínio sobre eles. Não contentes com esta supremacia humana que garantia e garante o direito de alimento de qualquer tipo de carne através do covarde abate, o ser  hoje manipula, humilha e tortura o bem-estar da raça animal seja peixe, ave ou qualquer outro.
E com a descoberta do malfadado código genético que poderia ser a salvação de todas as espécies no que diz respeito a doenças e afecções que atingem os organismos, vemos novamente a falta de ética e de humanidade invadirem os cérebros privilegiados modificando geneticamente todos os que foram feitos com perfeição para servi-lo levando à perversidade de criarem e modificarem animais, tripudiando sobre eles, criando aberrações que mal conseguem se suster de pé e o que é pior, tudo isto motivado pela ambição e poder. Por estas grandes descobertas que a muitos enriquecem, vemos aves maltratadas, criadas à base de hormônios para que produzam aceleradamente; animais que são obrigados a engordar antes do tempo para que sejam vendidos mais rapidamente e em consequência fortaleçam os bolsos de seus criadores e coisas de arrepiar os cabelos de uma bioética que também nada de concreto faz para acabar de vez com este abuso e garantir o bem-estar animal. Se todos procurassem ler a respeito deste modismo que é a transformação genética, veriam que a clonagem da ovelha Dolly foi apenas um refresco perto do que está ocorrendo nestes laboratórios espalhados pelo mundo todo. E não para por aí: o mesmo acontece no reino dos vegetais; há quanto tempo não vemos uma fruta saborosa, como deveria ser? Produzidas aos milhares e amadurecidas à força não têm gosto de nada, sem contar que as mais vistosas são para exportação, é claro!
Verduras e legumes também não fogem à regra, plantadas e multiplicadas à base de adubos, fungicidas e outros tantos cidas, os chamados agrotóxicos, acabam aos poucos com o resto de saúde de quem deles se alimentam, acarretando doenças que a longo ou a curto prazo dilapidam a espécie humana. Sem contar com a famigerada mutação genética que esses alimentos sofrem em suas células.
Este é o ser inteligente que está dominando o planeta? Este é antes de mais nada o anticristo, a apocalipse galopante que assola e destrói  a Terra a cada dia, a cada minuto, a cada segundo. O magnífico planeta azul está prestes a se tornar cinzento ou por que não dizer marrom? Usado para extrativismo tudo dele é retirado para obter-se  lucro e dinheiro: petróleo, o sangue quente da terra, é retirado incansavelmente dia e noite, poluindo as águas com os  constantes desastres ecológicos que sua exploração ocasiona. Minerais são extraídos sem dó nem piedade, para enriquecerem grandes grupos e para favorecer alguns com sua preciosidade.A água tratada como a pior das substâncias, servindo para escoamento de lixo e detritos e sendo vendida e comerciada para os países mais ricos. As árvores que controlam e equilibram o sistema climático, derrubadas indiscriminadamente adornando com sua qualidade  os lares de milionários e países de primeiro mundo enquanto que  as nações de onde são nativas nem sabem mais o que é madeira. O ar sendo poluído e degradado pelo avanço tecnológico e pelo poder da industrialização que incentiva a venda de automóveis mais do que a plantação saudável de alimentos.
Como se tudo isso não bastasse, vemo-nos agora sem saber o quê adquirir  de qualidade quando vamos às compras. Que óleo comestível trazer para casa? A moda dos transgênicos, a praga do futuro, invadiu todas as prateleiras, nos deixando raríssimas ou nenhuma exceção. Sabemos, ou pelo menos deveríamos saber, que o alimento transgênico que muitos consomem porque acham ser moderno e cômodo como comer uma fruta sem semente, de diferente formato, é algo de que ainda desconhecemos o resultado a longo prazo. Que mutações esta aberração poderá trazer ao longo do tempo para um organismo? Gestantes que preparam um outro ser dentro de si, lactantes que amamentam, crianças em formação; todos consumindo, como poderia dizer, uma bomba-relógio programada para explodir no futuro?
Isso também não importa, pois andamos às voltas com governantes que apenas dão valor a encherem seus bolsos e os de sua família pouco se importando com estas questõezinhas banais...
Entretanto, o óleo geneticamente modificado ali permanece soberano, reinando nas prateleiras como um vilão do velho oeste, servindo de base para um banquete que pode ser futuramente o da morte, sem ninguém sequer questionar, ou ler a legenda "geneticamente modificado", com preocupações mais importantes como consumismo e criação de novos feriados inconsistentes.
Experimente criar artesanalmente um tipo de azeite caseiro saudável  para ver o que acontece: Vigilância Sanitária na cabeça! Alimento clandestino e venenoso não pode ser consumido pelo cidadão!
O que nos resta fazer? Cruzarmos os braços e esperar que a ficção tão insistente com os mutantes contida nos filmes de má qualidade se tornem realidade?
Precisamos ter em mente que Apocalipse now, 2012, The day after tomorrow serão brinquedo perto do que possa acontecer com  a raça humana durante este ciclo sinistro que nos rodeia.
Ou temos como alternativa apenas escrever um texto como este num blog solitário, que  é como se encontrar em uma ilha no mais distante ponto do planeta servindo de mero desabafo para uma questão tão vital que é a integridade humana?
  




domingo, 14 de novembro de 2010

As mudanças valeram a pena?

Amigos, o quadro que  nos remete ao dia da Proclamação da República pintado por Benedito Calixto da qual comemoramos 121 anos nesta segunda-feira não me foi possível publicar nesse artigo. É uma pena, pois transmitiria ao texto maior motivação. Assim resolvi adicionar uma outra gravura que relacionada ao tema. Mas eu garanto que uma grande parte de cidadãos deste país mal sabe o que representou esta mudança em nossa nação. Muitos homens públicos também não o sabem, dada a ignorância e falta de cultura que grassa entre os parlamentares.Assim, decidi em meio a total descrença publicar esta postagem que se segue. Espero que gostem.







A HISTÓRIA SE REPETE



Alguém já prometeu uma vez... Por muito tempo, a certeza de dias melhores e mudanças políticas desejáveis foram até vislumbradas. Mas tudo passou, como sempre nada mudou, nada aconteceu. As promessas não se cumpriram, as novas verdades foram distorcidas e acabaram como dantes...
Feudalismo, Monarquia, República, Comunismo, Socialismo e tantos outros “ismos” e a verdade continua a mesma: não há solução para os problemas que afligem o povo de qualquer lugar do planeta. A elite privilegiada sempre existirá e prevalecerá desde que foi criada. E para que ela se mantenha no poder deverá ficar no alto da pirâmide hierárquica, seguida de perto por outras elites como a religiosa, militar, industrial e outras, enquanto o povo ocupará como sempre a base da pirâmide tal qual era no passado.
De todas as correntes políticas que passaram pelo país, nenhuma delas privilegiou a classe economicamente menos favorecida: do feudalismo à monarquia quase nada mudou, da mesma forma que a República não solucionou questões que ao povo dissesse respeito, e a despeito de novas promessas de que dias melhores virão com esse ou aquele regime político, resta-nos o ceticismo total ou a esperança de que um dia seja possível visualizar épocas mais felizes.
Quando analisamos os fatos à luz da história, iremos perceber que as palavras que foram o lema da Revolução Francesa no século XVIII: Liberdade,Igualdade e Fraternidade jamais serão consideradas, principalmente na sociedade atual, privada de cultura e conhecimento talvez nem saiba qual o real significado destes vocábulos e o que eles valem.
Basta voltarmos ao século XIX após a Proclamação da Independência onde José Bonifácio era o responsável por grande parte dos atos políticos do príncipe. O patriarca da Independência era um homem de inteligência ímpar, estudioso e de uma cultura sem igual, no entanto, qual o final de vida que lhe restou? Morreu na mais absoluta miséria, em sua casa, envergonhado ao receber visitas famosas a observarem os lençóis remendados que lhe cobriam o leito.
Quando houve a abdicação de D. Pedro I a seu filho, veremos que na impossibilidade do mesmo governar como rei, esse encargo foi designado a outras regências enquanto o então Príncipe Pedro II se esmerava nos estudos para obter a mais lapidada formação e ocorreu o mesmo que já havia ocorrido com José Bonifácio, o então regente que tanto bem fazia, revelando-se um mecenas generoso que custeou a carreira de muitos artistas, entre eles Carlos Gomes, passou a viver em dificuldades financeiras, e sem luxo na aparência  foi perdendo a sua popularidade de príncipe, pois se apresentava publicamente com roupas rotas e carruagens velhas e decadentes que diminuíram a imagem do império perante os brasileiros.
Com todos os acontecimentos como as posições políticas que D Pedro tomava contra os poderosos militares e igreja, acabou sendo exilado morrendo distante e sempre a sonhar com a tão amada terra, o Brasil.
E quantas traições aconteceram dentro desses regimes políticos, todas elas desencadeadas pela ambição pelo poder em primeiro lugar.
Hoje, nos deparamos com um cenário de miséria na política internacional e nacional. Uma miséria cultural onde a ética, os valores dignos como a honestidade não têm mais lugar. Temos uma República fraca, escrava de economias ambiciosas e ávidas pelo poder, contamos com políticos mal preparados, sem cultura e sem valor moral.
Quando nos encontramos às voltas com parlamentares que mal conseguem assinar o nome, e que  são submetidos ou condicionados a ocuparem um cargo importante para o país através de um ridículo ditado de palavras, é que nos perguntamos de que vale tantas revoluções e tantas vidas que se perdem e se perderam para efetuar mudanças.
Quando começamos a perceber, que no ambiente político que nos rodeia só existem sujeira, corrupção e interesses pessoais é que nos perguntamos: temos o quê comemorar nestes 121 anos de República?
Infelizmente, só podemos parabenizar aqueles que realmente se empenharam no passado e dar os pêsames aos homens públicos do presente que não sabem e nem querem saber como a política deve realmente ser...









sábado, 6 de novembro de 2010

É impossível deixar de lembrar...

Amigos, mais uma semana que passa voando, fugindo do mês de novembro, nos aproximando de mais um Natal e do término do ano que evaporou tão rápido como fumaça levada pelo vento. As tristezas de um finados mesmo com todo o vigor do dia ensolarado se foram agora ,e novas preocupações nos trazem de volta ao mundo dos vivos onde a agitação, contradições, contratempos, encontros e desencontros nos preenchem  a vida. Sabemos que o presente agora é o que mais importa, o futuro é incerto e o passado...bem, já se foi, mas como esquecê-lo?
Ao lembrar a imagem de uma melodia escrita em um pentagrama...São cinco linhas...E a clave? Se for de sol, temos as notas sol,sol, mi, sol, ré em sons médios...Se for clave de fá, teremos sons mais graves de si,si, sol,si, fá....
Tudo isto para dizer que...
Quando ouvimos aquela música de um passado não tão distante, para dizer a verdade muito próximo, tão próximo que podemos quase tocá-lo, sentir seu cheiro de perfume, sua cor rosa a enfeitar nossas tardes, podemos passar horas a ouvi-la martelando em nossa cabeça, nos transportando para a época mais feliz de nossa existência.
Aqueles dias e noites magníficas, bem vividas, cheias de emoções e tão cheias de vida!
Tardes ao sabor do vento, o jogo de bola com os amigos, o domingo na piscina, a noite diante da tela de um cinema acompanhada da mais doce companhia.
Quantos sonhos, quantos planos! Se foram realizados ou não, pouco importa, o que conta é que fizeram parte de vidas levadas sem planejamento, sem premeditações, embaladas por batidas fortes do relógio do coração.
E quer coisa mais natural e sadia do que viver por conta do destino, com os encantos da juventude e as loucuras da adolescência?
Por vezes, a alma invadida por uma euforia incontrolável levando a acreditar em tudo e em todos,achando o mundo maravilhoso, sentindo o amor vibrando forte como as ondas do mar a arrebentarem no rochedo...
Outras vezes com o rosto molhado por lágrimas de incerteza, de desespero, sentindo a dor rasgando o peito invadido pelo ciúme e pelo desamor.
Quantas  vezes estremecendo por um toque apenas; momentos mágicos, inexplicáveis de amores ingênuos, platônicos e eternos! Amores apenas sentidos, às vezes à distância e que, no entanto, marcaram para sempre...
Tempos inesquecíveis, onde as  proibições eram  responsáveis por tanta magia e desejo de desobedecer! As mentiras inventadas para conseguir escapar, os encontros furtivos cheios de aventura e emoção...
O céu era mais belo, as noites mais estreladas  convidavam a amar e a sonhar! A vida se apresentando como um romance bonito onde éramos os personagens principais...
A vontade de viver no vigor da juventude, ao ritmo da música mais alegre e contagiante, muitas vezes de um romantismo sem par, ouvidas na solidão de um quarto, nos transformando em príncipes e princesas através imaginação que nos arrastava a lugares dantes nunca visitados, sempre acompanhados pela presença de um grande amor.
Quem vive do passado é um ultrapassado, muitos dizem, viva o presente! Mas somos o que somos pelo que fomos, se felizes porque lá nos realizamos, se infelizes porque lá não conseguimos obter a tão sonhada realização, mas mesmo assim, sabemos que a felicidade plena jamais existirá, alguém já disse uma vez: "o que existe na vida são momentos felizes".
Guardemos, portanto, os nossos momentos de felicidade no fundo de nosso coração e nos lembremos deles com carinho e estaremos realizados.
O tempo na realidade não existe, o que existe é aquilo que vivemos que nos faz sentir emoções, que nos faz vibrar, que faz com que o nosso coração bata mais forte...
Ah! do que uma música é capaz!


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Homenagem póstuma

Amanhã é o seu dia, meu querido pai...É uma pena que seja um dia tão triste para que eu me lembre de alguém tão alegre como você foi. E  mais triste se torna quando há onze anos não conto mais com sua amável presença.
Exemplo de dignidade e humildade acima de tudo, você foi tudo de bom que pôde acontecer em minha vida.
Tenha a certeza, esteja onde estiveres, que você será sempre o meu paizinho querido, aquele  cuja lembrança nem o tempo vai apagar.








"LEMBRANÇA"



Tudo aqui nesta casa me lembra a tua presença: seja o solitário porta-retrato sobre a estante que exibe inocente o teu rosto simpático, ou até mesmo o relógio silencioso de parede com que me presenteaste e que continua trabalhando indiferente.
Aquela tua florzinha preferida no jardim...
O frasco do perfume, intacto no armário do banheiro, ou as roupas imóveis no guarda-roupa das quais não tive coragem de desfazer; os chinelos, o doce preferido, os discos... A Bíblia Sagrada esquecida sobre o criado-mudo...
As suas palavras carinhosas, o sorriso amável, a compreensão, o exemplo e a dignidade acima de tudo.
Você, agora, a sua imagem se esvaem no tempo qual fumaça que se dissipa rapidamente ao sabor do vento.
Sua morada já não é esta.
Engraçado como a fragilidade humana é imensa! Os objetos materiais permanecerão por muitos e muitos anos: uma simples folha de papel com anotações tuas ainda remanesce e remanescerá, não sei até quando, enquanto que de você nada mais restará.
Caminhando pelo cemitério silencioso, carregando o ramalhete que eu mesmo compus com suas flores prediletas do jardim, vou remoendo estas palavras, quase uma oração pessoal.
Revejo a lápide fria de onde o nada é a certeza mais dura que me invade o ser.
“Quando poderemos nos ver novamente, trocar confidências?”
De ti, ficaram-me as mais doces lembranças que um ser humano pode ter.
A vida deve continuar... A guerra não acabou, ainda mesmo que um combatente de ouro tenha tombado.
Nada espero... Nada cobro... Nada exijo... Vou vivendo à mercê da sorte...
A mim, resta-me a capacidade de poder fechar os olhos e recompor já com dificuldade o seu rosto sereno. O sentimento que nos uniu é o mesmo e será eterno, imortal, indiferente à fugacidade do tempo...

Imagem acima retirada do Google Image. Site: cienciatic.blogspot.com.

sábado, 30 de outubro de 2010

Você é um dos meus grandes tesouros...

Essa vida tão atribulada não nos deixa tempo para quase nada... As 24 horas de um dia voam e se esvaem como fumaça pelos ares e é preciso muita luta para que possamos aproveitá-las integralmente. Ontem, dia 29 de outubro era o dia em que deveria ter feito esta postagem, pelo 27º aniversário de minha querida filha, mas na impossibilidade de escrever dado a inúmeros acontecimentos como aqueles que antecedem a chegada de visitas entre tantos outros, deixei de fazê-lo. E é com uma ponta de remorso que passo a escrever estas palavras que a ela dedico totalmente...


ARTEMIS

Minha querida bailarina, lembro-me bem do seu nascimento que encheu a minha vida de alegria e renovação, assim como da tua infância e dos cuidados que a ti dispensei rodeados de carinho e amor.
Lembro-me da tua personalidade infantil tão meiga e quieta sem nunca quase me causar transtornos ou tristezas. Da tua vida escolar, da tua paixão precoce revelada pela dança clássica que nunca abandonaste desde os seis anos de vida.
Sempre agradeci a Deus pela tua saúde, desenvolvimento normal  e sobretudo pela tua presença que encheu minha casa de alegria e paz.
Quero dizer na data do teu aniversário que sempre foste a luz da nossa morada simples valorizando-a  com tua humildade, bondade e valor.
Quero aproveitar também para te dizer que não sei em que momento senti que estavas crescida, realmente mulher. Hoje sinto que estás independente, já desamarrando os laços que nos mantinha ali, unidas, presas uma a outra como que ligadas pelos elos de uma corrente, mas não por grilhões de ferro ou outro material, mas sim, os do amor e da amizade. E eu te pergunto: pode existir uma amizade entre mãe e filha? Te respondo que sim, uma amizade sincera que respeita os direitos, que ajuda, que objetiva a felicidade mútua.
Foram inúmeras as suas apresentações de balé, sei que não compareci a todas elas, e te peço perdão, porque você tão bem sabe que houve motivos verdadeiros para que me ausentasse delas. Entretanto nesses recitais sempre estive presente espiritualmente desejando a maior sorte para a bailarina mais linda e perfeita do mundo! Reconheço todo o seu trabalho na luta para conseguir equilíbrio entre os movimentos do  corpo e  da alma e de todo o esforço que empenhas a esta tua jornada musical.
O amor de mãe é  sublime e único e isto saberás quando tiveres seus próprios filhos, é amor que sofre à distância, que faz perder o sono, que leva a mil preocupações mesmo infundadas, mas que são inevitáveis, apenas amenizadas com a a presença dos filhos.
Hoje, estamos trilhando os mesmos caminhos, que eles sejam cobertos de flores sem espinhos e que o perfume delas nos faça feliz e nos dê conforto espiritual.
Desejo a ti neste dia de aniversário toda a felicidade que o mundo pode reservar: que sejas bem sucedida em tudo o que empreenderes, que ames muito e que sejas muito amada com toda a meiguice que você merece e que sobretudo tenha muita saúde e paz a te encher a existência.
E que o nosso amor nunca se arrefeça a despeito da distância e  das dificuldades da vida, que ele permaneça aceso como uma chama eterna, além das barreiras do tempo...
Te amo muito, parabéns!


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Recordar é viver...

Amigos, é sempre bom escrever neste livro virtual que é o blog. Nele podemos  publicar o que quisermos sem censura (por enquanto), não dependemos de editoras para selecionar nossos textos. A literatura   é a minha paixão junto da música erudita, porque amo o piano e acho que desde que nasci. A primeira vez que ouvi uma prima  tocando, por ele me apaixonei e sempre fez parte da minha vida, seja nos momentos de alegria ou de tristeza, os sons que dele saem  me alimentam a alma.
Porém, não é sobre isso que vou escrever hoje. Quero deixar registrados nestas páginas que virão, a importância, o valor que a nossa vida tem, desde seu início até o nosso desenvolvimento completo como pessoa, como ser humano que vem para este planeta com a finalidade de  aprender nessa grande escola que é o mundo onde vivemos. Nele, temos que valorizar todos os detalhes e pormenores que nos rodeiam, porque têm uma grande importância na nossa vivência aqui passageira, nada pode passar despercebido aos nossos olhos, e esse olhar não deve ser apenas fotográfico, mas tem que ser o olhar da alma, que além de registrar, possui a capacidade de amar tudo aquilo que vê, e é por esse motivo que ela não pode ser pequena como dizia o grande poeta português Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Pois bem, sou uma pessoa um tanto diferente, acho que muito poucas tiveram a capacidade de como eu fazer um diário de vida às avessas. Bem, vocês perguntarão: mas como assim?
Durante toda a minha existência, manifestei amor pelas coisas mais ínfimas que vocês podem imaginar. Na infância, ainda muito pequena de que não tenho lembrança, conta minha mãe que me punha a afastar os matinhos por onde caminhava e lhes acariciava e pedia licença para passar. Essa meiguice de infância guardo até hoje dentro do meu ser. Se me sento a uma mesa para fazer a refeição, a primeira coisa que me vem à cabeça é o sacrifício daquele animal que nos está fortalecendo com a sua carne, com a sua alma e me compadeço dele enquanto agradeço mentalmente.
 Há pessoas que valorizam seus presentes pela etiqueta e preço que eles trazem. Sempre procurei dar valor às pequenas coisas, aos pequenos gestos. Quanto maior o sacrifício envolvido para comprar um presente a alguém, maior o seu valor para mim.
Fui guardando durante a vida estas lembrancinhas todas: cartões de Natal, de casamentos, de aniversários, pequenos mimos como uma caixinha de fósforos (amorfos) vazia vinda de Portugal  enviada por um cunhado, cartas (todas elas) folhetos importantes sobre trabalho que me passavam, tudo isso ante o olhar apreensivo de minha mãe que sempre me alertava e aconselhava para que jogasse estas coisas, não há lugar para tudo isso numa vida.
Mas teve sim. Comecei a fazer um diário de vida aos 56 anos. Só que é um contar regressivo e me surpreendi com a sequência lógica que consegui fazer. É uma pena que não seja virtual, porque se assim fosse poderia mostrar algumas partes de uma vida comum, mas não desinteressante. Através deste diário, compus minha vida amorosa: cada carta ou cartão é precedido de explicações românticas, engraçadas, tristes...enfim! Estou agora terminando o segundo volume, o  dos amigos, alunos, professores, familiares. Tenho medo por estes álbuns...Sabemos que os papéis apesar de frágeis, sobrevivem além da nossa materialidade...Eles podem passar de geração em geração se for do seu interesse. Mas, podem também ser jogados e esquecidos em um canto qualquer até que alguém  os encontrem e por eles se interessem, ou jogue-os ao sabor do vento...



Olha para este mundo em que vives... Dá importância a cada detalhe, a cada gesto, a cada sacrifício.
Acostume-se a agradecer mais do que maldizer. Agradece a vida que tens quando muitos já se foram. Bendiz a casa que te abrigas, quando muitos não têm onde morar...
Ama aquele que te dá amizade e amor quando tantos já não têm ninguém para amar ou de quem receber amor....Reconhece o gesto do presentear sem avaliar o valor monetário do mimo, lembre-se antes de que foi lembrado, e isto é o que mais importa.
Ama a natureza a seu redor: as árvores que te dão sombra e conforto, os céus que te cobrem com a beleza das nuvens a adorná-lo. Ama a fúria do mar quebrando-se num fortíssimo contra os rochedos, ou a suavidade do regato a murmurar entre as pedras, ama as conchinhas da praia, os peixes e todos os animais deste planeta.
Dá importância a cada acontecimento de sua vida. Mesmo que pequenos eles sejam , como peças de um quebra-cabeça, vão compondo a sua história na passagem por este planeta.
Valorize o alimento que tens sobre a mesa quando tantos não possuem o que comer.
Não reclames, não digas eu não gosto do que sou, poderia ser assim... Antes dá o devido valor ao corpo perfeito quando outros são tão deficientes desta perfeição...
Ame, ame profundamente, não tenha medo de amar ou demonstrar amor. Não observe os defeitos, presta mais atenção às qualidades...
Releve as falhas, principalmente naqueles que te amam e que amas, nada é perfeito, aliás conscientiza-te de que  podem  não existir imperfeições, mas diferenças de pensamentos.
Conta até dez antes de ofender ou atirar pedras, respire fundo antes da cólera e ela passará.
Sobretudo guarde na memória as  lembranças boas, engraçadas, ou más, afinal de contas... Recordar é viver!


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mestre...

Ainda não é dia de escrever, mas quem foi que disse que há um dia específico para este fim? Além  do mais visitando um blog de um amigo vi que o dia de hoje é especial, dia do professor. O meu dia! Havia até me esquecido ocupada com os afazeres diários, porém o dia 15 de outubro sempre esteve tão presente na maior parte da minha vida que agora aposentada, nada melhor do que refletir e escrever sobre ele. Desculpe a cópia, querido amigo, mas não consigo resistir ao tema. Sempre a figura de professor é vista como a de um semeador, mas não de flores, é  a semente do exemplo, do ensinamento, do esclarecimento, da luz que acaba com as trevas da ignorância e do mal. Parabéns a todos os professores, mas somente àqueles que procuram ser mestres de verdade, sem egoísmos, sem vaidade, sem reclamações. A despeito da sua condição pouco favorável e quase sempre irreconhecida do seu mérito, que o prazer de semear invada a sua vida, e lhes encha a alma de felicidade e satisfação do dever cumprido!


Alguém já disse uma vez:" Semeia, semeia mestre. No grande Cosmo, tu és semeador, tu és a presença, a pessoa. Não podes fugir à responsabilidade de semear... Não digas o solo é áspero...O sol queima...Não é tua função julgar a terra, o tempo, as coisas. Tua missão é semear."
Mais importante do que a semente a ser lançada no solo, é o exemplo que tens a dar.Sobretudo o exemplo da importância de dar amor. Hoje lanças o germe, joga-o na terra inculta e seca e todos os dias rega-a  para que ela se reproduza, cresça e dê lindas flores para enfeitar a vida e dar alegria às pessoas.
Se ela não vingar, por ter caído entre pedras, ou em ambiente árido, não te desesperes: tenha a certeza de que seu exemplo de humildade ao lançá-la sem presunção, será visto  e admirado.
Porque aquele que cultiva  amor, com amor será recompensado. Aquele que ensina a amar, por todos será amado. Aquele que age com simplicidade por todos será entendido.
Não creias que tua missão é fácil, ela é uma das mais difíceis tarefas que existem na face da terra. Por vezes terás medo de não conseguir lançar a semente, por outras, muitos obstáculos deverão ser transpostos para que possas semear.
Procure conhecer o solo em que trabalhas, sem contudo discriminar este ou aquele chão: na tua função de mestre e ao mesmo tempo aprendiz; se julgas, muitas vezes poderás errar sendo surpreendido com uma bela flor que nasce em campo  estéril e infértil. Na tua profissão de preparador de solo é teu dever cuidar dele adubando-o e regando-o até que se torne apropriado para o plantio, bem como é tua missão saber que todo o chão pode produzir diferentes tipos de flores, desde que não descuides dele.
Não demonstres preferências ou apego a determinado solo, semeia em todos eles para que obtenhas um vasto jardim florido.
Não reclames das dificuldades e das adversidades, se há muitas pedras no teu caminho, procure retirá-las com paciência e determinação; se a semente cai entre a vegetação impiedosa que tenta sufocá-la e impedir que nasça, ajuda-a para que respire e cresça, assim como é teu dever separar a boa semente da erva daninha que nunca deve ser lançada devendo ser arrancada quando necessário, se nascer entre as flores.
E nunca se esqueça:
O bom ensinamento transforma, lapida, fortalece. O bom exemplo será seguido e multiplicado. O altruísmo da tua ação salvará a Terra e todos os homens que nela vivem...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sinos

Olá, amigos! Que saudades de escrever neste cantinho tão nosso...Semana cheia de consultas médicas, uma gripe daquelas que tira de qualquer frágil mortal vontade de fazer alguma coisa.Quando a tempestade passa e vem a bonança é que valorizamos a vida! Como é bom estar bem! Não há dinheiro que pague a saúde e o bem-estar.
Mas vamos ao que interessa: se vocês já visualizaram minhas postagens mais antigas devem ter visto que tenho uma paixão incontrolável pelos sinos e o seu tanger. Para mim,sinos e sua melodia me fazem viajar através do tempo e das horas, me transportam para um mundo de paz. Hoje, estou com um exemplar de Pablo Neruda, o grande poeta chileno do qual estou a ler Campo Geral, onde ele em toda a sua prolixidade fala da natureza descrevendo em detalhes os rios, os minerais, a vegetação da América. Estou ainda no começo do livro que me foi ofertado por uma prima muito querida. No final da obra, há umas páginas em branco onde comecei a esboçar versos simples do fundo d'alma sobre quem? Eles mesmos, os sinos.É algo que parece uma fixação, coisa de outras vidas, sei lá... Já é o segundo texto em que trato do mesmo tema.No primeiro deles, cujo conteúdo em prosa vou republicar nesta edição, o tema dos sinos em Badaladas Crepusculares explica todo o mistério que os envolve e no segundo, trato deles, mas através da poesia que consegue  transmitir a melodia que eles propagam pelos ares levando-nos a meditações diversas...









Badaladas crepusculares




Foi quando eu passava ao lado da Praça da Sé. Passava próximo daquela arquitetura colossal, rodeada de pessoas de todos os tipos que saíam apressadas do trabalho buscando o aconchego de seus lares e outras que ali perpetuamente usam aquela região como abrigo e meio de sobrevivência sem se importarem com aquela magnitude gótica cujos sinos, naquele momento repicavam sonoramente as badaladas das dezenove horas.


Confesso que, partircularmente, o soar dos sinos sempre me tocou nas maiores profundezas de meu âmago, trazendo à minha cabeça inúmeras reflexões: e é na idade dos cinquenta anos que estes pensamentos me visitavam com mais frequência. Não que seja ligada à religião ou a ela me entregue, mas o tanger dos sinos é algo tão significativo que parece remontar e nos levar a outras existências. Esta música que repercurte nos ares, principalmente ao anoitecer nos leva a devaneios: Quantas vezes esta melodia sagrada soou? Em que momentos invadiu a alma de milhares de seres? Momentos tristes, como os funéreos, festivos como os natalinos, matrimoniais e tantos outros.


Parece-me dar o poder de vislumbrar minhas outras vidas em que acompanhava funerais ao ritmo dos sinos, ou de inúmeros Natais em que anunciavam a missa do galo, ou ainda indo a épocas mais remotas, o anúncio das vitórias nas batalhas medievais, onde acompanhavam os generais ao fazer o balanço de vivos e mortos em seus exércitos.


Enfim, dado a profundidade que significam para mim, fazem com que jamais possa me ligar a rituais litúrgicos que não utilizem a plangente música dos sinos...





OS SINOS


Sino,
Alegre a repicar.
Boa-nova que vai chegar!

Sino,
Nostálgico a tanger
Tristeza que vai doer...

Sino,
Barulhento a badalar
Festa que vai começar!

Sino,
Mudo, sem tocar
Nostalgia, vai passar...

Sino,
Hino estridente
Que mexe co'a alma da gente!



quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Elo partido

Olha eu aqui de novo amigos. Desta vez consegui aguardar uma semana sem publicar nada. Também, semana cheia de afazeres domésticos e de resolver problemas familiares.Essa vida é um corre-corre que não cessa graças a Deus, é um sinal de que continuamos vivos , atuantes e desempenhando nosso papel na sociedade.Agora mesmo terei de sair novamente e a postagem ficará para depois, quando chegar da cidade. Hoje é o dia da secretária, quase véspera de eleição e feriado religioso, o trânsito na cidade estava uma "beleza"!Super engarrafado, principalmente em avenidas de acesso às vias principais.Tudo bem, logo passa e estamos prontos para escrever novamente!
Há muito dias que penso em quê escrever: sobre as eleições não, já há uma certa saturação nesse sentido ou qualquer outro tema que seja estressante não será bem-vindo nem para quem escreve, nem para quem lê. Desta forma, resolvi voltar no tempo e escrever sobre mais uma passagem da minha vida. Interessante, a vida de cada um de nós é semelhante a um livro onde a cada dia escrevemos uma história, ou até "estória" como algumas pessoas sonhadoras que vivem num conto de fadas o fazem.Para quem adora viver, como eu, a vontade é de que esse livro nunca chegue a seu capítulo final. Ao publicarmos cada uma dessas páginas, vamos abrindo o livro da nossa vida para compartilhar com amigos e leitores que nos prestigiam a cada dia, semana ou mês.E é um milagre essa troca de convivências com pessoas de todas as distâncias, raças e gostos através de um simples ato: a publicação de um texto. Mas vamos ao que interessa.Isto que vou contar se passou em 29 de junho de 1974 e lá já se vão 36 anos que voaram na velocidade da luz...










O dia não amanheceu tão frio como esperava. Araçatuba é uma cidade onde a temperatura é sempre muito quente no verão, mas quando é inverno, o frio não brinca,  vem com grande intensidade em alguns dias. Felizmente havia escolhido um vestido de noiva apropriado, de voil porém,   longo, assim como as mangas e adornado com enfeites de inverno, só não queria passar frio, nem tampouco calor. Um vestido simples, mas atualíssimo até hoje, quando o vejo, concluo que  poderia ser usado tranquilamente.
No viço dos meus vinte e dois anos não havia lugar para preocupações, que belos dias aqueles! Nem mesmo a velocidade das horas a correrem e uma data tão especial como aquela me abalaram. Acordei tranquilamente, tomei meu café da manhã sossegadamente e até a hora do almoço vivi o meu dia a dia rotineiro.
À tarde já se fazia presente e resolvi sair para encontrar com meu noivo, o futuro marido.Eram exatamente 14 horas.Ele era terrivelmente apaixonado por carros e tudo o que dizia respeito a eles.E assim sendo entramos no seu carro, que para época era bastante incrementado: rodas de magnésio (hoje se usa falar de liga leve), vidros fumê, bem escuros e muitos outros acessórios que se usavam na década de 70.No interior do veículo, que  era a nossa segunda casa, passávamos horas.Íamos passeando pelas ruas da cidade natal quando ele não estava trabalhando, pois  viajava bastante.Pelas avenidas principais da cidade,  a realização pessoal no som estridente  do escapamento aberto que soava como um grito de liberdade e rebeldia jovem. Cabelos ao vento, nada de vidros fechados ou ar condicionado viciado como nos dias de hoje, nada de medo de ladrões e sequestradores coisas que inexistiam na época.
O casamento marcado para as 17h e 45 minutos, maquiagem para as 17 h e nós ali, correndo ao sabor da brisa fria, uma paradinha para o refrigerante e... olha que nem assim havia aquela neura de observação do relógio, nem mesmo obsessão para se preparar, dia de noiva, nada...Que diferença! Hoje a noiva passa o dia no recato de um spa, fazendo mil coisas para parecer maravilhosa, esforçando-se para se fazer bonita e agradar a todos, sonhando e contando os segundos para que chegue a hora tão sonhada! E isto não é só no dia das bodas, o stress já começa muito antes com preparo de festa, ornamentação de salão e igreja, organização de de listas de convidados e presentes, preocupação com fotos e filmagens, enfim! Quando finalmente o casamento acontece é preciso muitos dias para que a estafa vá embora, creio que nem curtir o casamento é possível.
Mas nós ali, sem nada pensar ou fazer aguardando pacientemente, é difícil de acreditar.Não me recordo com precisão, porém alguém deve ter se preocupado por nós em organizar uma pequena festa em um salão que alugáramos, cuja decoração foi simplicíssima; nada de flores ou qualquer outra extravagância, um churrasco feito por amigos seria servido além do bolo e dos doces que já haviam sido encomendados alguns dias antes, e a sua entrega não foi ansiosamente aguardada, chegariam e pronto! Também não houve a expectativa quanto aos convidados: enviamos os convites que eram bem simples com dizeres bem nossos, francos e sinceros.
Quando acordei para o tempo já passavam das 15 horas, era um sábado alegre, dia de São Pedro, e a maior parte do tempo ria com a frase do sacristão pronunciada com simpleza  em seu sotaque interiorano:
-Casamento dia de São Pedro, seu casamento vai ser uma bomba!-enquanto fazia um círculo com ambas as mãos representando o estouro.
Naquela hora lembrei-me de que nem havia feito as unhas! Nem tampouco ele se apressara para vestir o terno rosa pink, camisa rosa-clara e gravata borboleta, cujas cores tanto combinavam com os enfeites rosa-bebê do meu vestido, para mim maravilhoso.
Deixei-me subir os degraus que conduziam para dentro da casa paterna. Tomei banho às pressas, dirigi-me ao salão de beleza próximo dali com o intuito de fazer as unhas. Porém! Ele estava cheio e Clara, uma nissei proprietária, apiedou-se ao dizer que era o dia do meu casamento e me esmaltou de rosa as unhas da mão.Não me senti contrariada, e sempre correndo contra o relógio, já eram 17 horas, dirigi-me à maquiagem. Esta foi feita como um relâmpago dado ao avançado da hora. Os longos cabelos secados e presos num coque banana, depois de levar uma bronca pelo atraso.Voltei para casa onde o vestido descansava sobre a cama aguardando o corpo esguio e elegante da minha juventude. Após vesti-lo e obervar o seu efeito no espelho grande do guarda-roupa, sentei-me na banqueta da penteadeira onde a cabeleireira que me acompanhava cobriu meus cabelos presos, num turbante de voil branco enfeitados com flores e os mesmos detalhes do vestido.Calçando as sandálias, subitamente ouço a buzina do carro do meu padrinho que chegara para buscar a noiva.Levantei-me num átimo e pude observar naquele instante o olhar  emocionado de minha mãe. Tudo parou naquele instante: era um olhar diferente, misto de emoção, surpresa e tristeza pela certeza da perda.Naquele olhar senti tudo o que ele podia me transmitir em fração de segundos: a dor da separação, a ausência diária do convívio entre mãe e filha, o medo da nova vida e o que me reservaria e a admiração ao me ver tão verdadeiramente bela naquele instante.Na troca de olhares, corri e a abracei antes que as lágrimas que teimavam  em se libertar me borrassem a tão sofrida e corrida maquiagem. Apenas um abraço e nele, conseguimos passar todos os sentimentos que naquele momento nos invadiam a alma.Desci a escadinha muito rapidamente como que a fugir daquele momento de emoção e já me encontrava no interior do carro que em pouco tempo logo alcançou a igreja central da cidade.Que confusão, meu Deus! Pensamentos nem tinham lugar em minha cabeça. A luz de um flash ainda no banco traseiro do carro me cegando temporariamente.Subindo os degraus já pude visualizar a meiga figura de meu pai, vestido de maneira simples, o mais elegante que podia ser. Nesta hora, uma ponta de dor subiu-me do peito para a garganta e enquanto pensava: "não vou chorar, não posso chorar!" via naqueles olhos que me fitavam com tanto amor, úmido de lágrimas que a custo não rolavam e que tanto podiam me transmitir: desejo de que eu fosse feliz, muito feliz, enquanto dava-me o braço ao som de "A time for us" e me conduzia lentamente em direção ao altar.E que humildade naquele semblante que agora entregava a filha ao jovem e futuro marido.
Naquele momento, senti o peso da separação que se avizinhava: jamais o bate-papo do dia a dia, dos conselhos, das refeições a mesma mesa... Naquele instante tão fugaz,  pude entender no olhar de meu querido pai onde as lágrimas conseguiram finalmente ficar, que um elo se partia,  que uma nova etapa na vida se descortinava, se seria uma boa fase ninguém poderia adiantar, porém essa sensação mútua de que algo se perdia calou em mim, ficou em mim presa e sempre aqui ficará como lembrança daquele dia...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Olá, amigos. Aqui estou mais uma vez para uma nova postagem, sei que ela deve ser semanal, mas para quem gosta de escrever é um período longo em demasia, por isso às vezes, antes desse prazo algumas idéias começam a fervilhar em minha cabeça e não tem como não digitar os textos que vão se compondo naturalmente. Gostaria de ter enviado esta publicação no dia de ontem que foi o dia da árvore, essa amiga silenciosa da mãe natureza que cumpre seu destino bravamente nos dias modernos. Ninguém melhor do que ela para receber homenagens e agradecimentos. Porém, ontem, tive que viajar para tratar de um processo judicial que há quatro anos se arrasta monotonamente na cidade de Rio Claro, São Paulo, cidade onde já residi por quase quinze anos. Mas este comentário fica para outra postagem se ele assim o merecer...



Logo que expirei o ar poluído e seco desta cidade de São Paulo, já me encontrava dentro do carro na Rodovia Bandeirantes, inspirando ar puro.E observando a magnitude das árvores, lembrei-me de que dia 21 de setembro era o seu dia. Algumas lágrimas de chuva preguiçosa teimavam em cair sobre o pára-brisa, enquanto divagava pensamentos observando todos os tipos de árvores por que passava. É claro que não estava dirigindo, senão...


Amo-as todas, sem preconceito, elas são responsáveis pelo equilíbrio do clima e do regime da pluviosidade, além de nos confortarem com sua sombra, seus frutos, flores, enfim, seu tudo.


Apesar da magnitude e esplendor de muitas espécies, resolvi escrever sobre uma delas em especial: os eucaliptos. Sei que para eles existirem, muitos outros vegetais tiveram que dar sua vida para o sacrifício. Sei também que é um tipo de árvore que vem de outro país, a Austrália, e que alguns estudiosos temem que ela danifique o solo tornando-o árido e também que possa mudar todo o ecossistema ao seu redor, por  não produzir frutos e assim a fauna, especialmente os pássaros, realizam o êxodo da sobrevivência debandando-se para outras florestas.


Mas... O que se há de fazer, eles existem no Brasil há bastante tempo e têm sua beleza... Assim...


Lembre-se, pelo menos de vez em quando, de que você veio da natureza, que ela é seu habitat natural,sinta-se selvagem, ande por bosques, respire fundo, acaricie uma árvore,sinta a textura de uma folha, a exuberância de uma flor, seu aroma, o cheiro da terra, pise-a com os pés descalços, cabelos ao vento,e, sobretudo, respeite e defenda as árvores para que não seja sufocado pela selva de pedra da cidade. Isso é terapia de graça e facilmente a seu alcance, pois a natureza não cobra pedágio.










Os eucaliptos



As folhas dos eucaliptos são novas nesta época do ano; sua cor é de uma tonalidade mais clara.


Quando o vento sopra, os galhos pendem à sua mercê, fazendo um imenso e agradável som , semelhante ao das ondas do mar quando vêm em direção à praia.


Observando o seu balanço, o farfalhar das folhas nos dias de vento, ou a sua imensa quietude quando o tempo está abafado como hoje, sinto que eles me transmitem paz, sobretudo através da sua calma, obedecendo às leis que a natureza dita.


Adoro olhar sobre o muro do meu quintal, estas árvores gigantescas, principalmente nestas horas fugidias que antecedem o entardecer.É um velho costume que tenho desde que me mudei para esta casa.


Ao longe, as montanhas azuladas e aqui, bem próximo a mim, esse mar verde de folhas, sacudindo-se ao vento.


Agora parece que vai chover. As nuvens estão passando rapidamente e o céu, antes azul, vai tomando uma cor plúmbea. O vento está soprando com mais força levantando poeira para o alto. Os eucaliptos dobram-se com sua força. E aquele rumor que faz lembrar o mar, retorna...


Pássaros lépidos voam à procura de abrigo.


Os relâmpagos ofuscam o céu com seus flashes acompanhados pela percussão dos trovões que ecoam além das montanhas.


Chove. Uma chuva mansa, quase muda. Da terra molhada, desprende-se um odor delicioso ao olfato.


Os eucaliptos balouçam-se. Suas folhas tremem ao toque dos pingos d’água. Mas quando toda essa agitação que acompanha os temporais cessa, eles voltam a aquietar-se.


Cai a noite. Se ela é sem luar, a sombra das imensas árvores são gigantes assustadores, porém se há lua, os eucaliptos banham-se na sua luz tornando-se ligeiramente prateados.A magia do luar se faz presente em cada uma das folhas que reflete através das gotas de orvalho a auréola argentina da lua...