quinta-feira, 15 de novembro de 2012





















A minha prima Lúcia:




Hoje, feriado, 15 de novembro...Quantas repúblicas já se passaram... De quantas delas não participei no meu tempo de escola, que já vai longe, desfilando em vias públicas, em companhia do colégio todo, que lotava de rostos jovens e belos as manhãs cívicas  das festas nacionais. Por vezes, na fanfarra tocando o ritmo para que todos marchassem naquelas gloriosas manhãs, de uniforme novo,  exibindo uma saia preta de prega macho na frente, camisa branca e jaqueta vermelha e preta, boné vermelho na cabeça, à moda Beatles e nos pés, sapato social preto e meias brancas. O surdo brilhando, novinho em folha, conversando com as cornetas, zabumbas e caixas onde primos, amigos e até ex-namoradinho participavam numa felicidade indescritível. No delírio juvenil, onde só havia lugar para o riso e a euforia vivemos momentos inesquecíveis. Acredito que todos daquela geração, assim como eu que vivi dias e noites coloridas dos anos dourados, sintam-se assim, como me sinto agora ao relembrar tempo tão ditoso que não voltará jamais...
Atualmente, já não há mais o entusiasmo em nossas escolas, onde o desânimo tomou conta de tudo e de todos, sobretudo no que diz respeito a civismo e datas nacionais,  a frieza substituiu o patriotismo e a descrença e o desânimo invadiram as almas dos jovens, cuja participação solitária nestas festas conta  com a presença de alguns poucos, mais semelhantes a robôs controlados, que precisam de corda para participarem realizando uma marcha insensível em um local pré-determinado para todas as festas, sejam elas  carnavalescas, futebolísticas e cívicas como a data de hoje. E, principalmente esta, a da comemoração da República  tem o seu  final  esperado com ardor, mais ardor do que ver a bandeira nacional, que nada mais é hoje do que um pedaço de pano verde e amarelo, que nada mais diz aos corações, pois nem sequer há olhos para  o globo azul salpicado de estrelas onde se destacam os estados do Brasil.
Mas não estou aqui a escrever apenas para relembrar estas festas na época da minha juventude.Quero hoje te dizer, cara prima, que me comovi com o desânimo que senti em tua voz hoje ao telefone.Um desalento em relação a nossa condição sofrida de educadoras, que não veem seu trabalho reconhecido por ninguém... Anos e anos de dedicação, de doação para a construção de um mundo melhor e em troca nem salário digno, nem agradecimentos....
Lembro-me bem da tua juventude, uma bela garota de pele branquinha e cabelos e olhos muito negros, ativa e estudiosa, corpo esbelto e cinturinha minúscula abraçada por um cinto de couro preto muito largo, à moda da época. A saia de uniforme plissada, impecável e a blusa tão branca cujo bolso trazia as iniciais do nome da escola como era o costume. Quanta admiração sentia ao te ver, adulta enquanto que eu magrinha, apenas uma criança em desenvolvimento invejando ficar como você.
Também tenho lembrança meio esfumada pelo tempo dos ídolos de quem era fã como os cantores Pat Boone, Paul Anka, o seu preferido,  cujas músicas você ouvia pelo rádio, porque naquela época não tínhamos bens de consumo como os jovens de hoje.De todos os cantores que você me apresentou fiquei apaixonada pelo Elvis, e dele nunca mais deixei de cultuar, ganhando um sofrido LP raríssimas vezes do meu querido pai que fazia o possível e o impossível para me ver feliz... Bons tempos aqueles...Quando relembro chego a sentir os aromas e cores daquela juventude maravilhosa que enchia a praça principal da nossa cidade. Você já era moça feita e namorava em casa, enquanto  eu, uma magrelinha, que queria ser gente grande, insistia com minha mãe para que me fizesse sempre um novo vestido, a fim de  que pudesse sonhar de princesa à espera do príncipe encantado! O tempo passou, tornei-me adulta, nós nos casamos, você descasou, tivemos filhos, mas nunca perdemos o nosso elo, a nossa amizade sincera que nos conforta quando precisamos trocar ideias, ou lamentar algum episódio frustrante ou triste.Os filhos, nossas joias preciosas que enfeitaram nossa vida e a encheram de cores, foram batalhar pelas suas vidas e sobramos apenas nós, na nossa labuta diária que nos toma toda a existência apesar da idade e das agressões do tempo, sem desanimar, lutando por uma vida melhor.
Por tudo o que vivemos e compartilhamos, mesmo quando estávamos distantes, é que te digo: não esmoreças, não desanimes e a cada dia valorize a dádiva da vida, que é única, valorize o tempo procurando vivê-lo intensamente a cada segundo que nos resta. Se esmorecer, te ofereço ajuda, se te animares prometo rir e festejar contigo, como sempre, para sempre...