sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


Parte II



Retomando o comentário a respeito do livro de Francisco Marins, Território de Bravos, algumas considerações são necessárias a respeito dessa sofrida profissão de seringueiro, na verdade, um quase subemprego para os nordestinos, que em massa, partiram para as terras inóspitas do Acre para extração do látex e a sua comercialização tirando dali o sustento de sua família, sendo, por muitas vezes roubados pelas balanças dos “aviadores” e deles dependendo para sua sobrevivência. À mercê dos perigos da floresta revelados em febres palustres, ataque de insetos, cobras e animais selvagens, sem o conhecimento necessário para aplicar uma tecnologia que facilitasse e garantisse seu trabalho ao longo do tempo, esse trabalhador viveu na lida de extração rudimentar, sem exercer a devida preservação da natureza,  numa busca insana pelas árvores que a mata fornecia, aprofundando-se cada vez mais na floresta, dando fim a própria vida em inúmeros casos.
Num país como o Brasil onde nunca houve por parte de administradores e homens públicos interesse em constituir um povo estudioso, bem formado e capaz em suas profissões, milhares de trabalhadores, perdem-se num trabalho repetitivo, sem objetivos, ou sequer perspectivas de crescer intelectualmente ou profissionalmente. É nesse instante que surgem povos estrangeiros que levam nossos produtos, formam pesquisadores, cientistas biólogos e tantos outros profissionais enriquecendo e levando divisas que poderiam ser nossas, infelizmente, esse descaso é uma constante dessa nação chamada Brasil.





Seringueiro extrai o látex da seringueira (bemvindocicloturista.com.br)



A vida do seringueiro não é nada fácil: as árvores são esparsas, a floresta é difícil e perigosa e os instrumentos de trabalho necessários para a extração do látex são: espingarda (para proteção), machadinha ou facão, terçado, tigelinhas e baldes de folha para armazenamento, além de outros.
  


Ferramentas do seringueiro - espingarda, facão ou machadinha, terçado, tigelinha, balde e outros utensílios.


Após a extração do látex, o seringueiro passava num processo rude e artesanal à sua defumação, fazendo com que coagulasse enrolando-o num pedaço de pau, produzindo grandes bolas de borracha que iam entre 5 e 10 kg. Muitos desses trabalhadores acabavam contraindo a tuberculose, fatal em vários casos.



Guia de turismo demonstra processo de defumação do látex, onde muitos morriam de tuberculose  (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
A coagulação do látex (http://g1.globo.com)



Após esse processo encaminhava-se aos barracões para vendê-lo. Como era autônomo, dependia desses “aviadores” (proprietários dos barracões) e ficava à sua mercê para sobreviver.
 Façamos uma pausa aqui para comentário e dedução: por que o povo brasileiro é sempre tão mal formado, não tem interesse em pesquisa e estudo? Verifique que séculos se passaram nessa exploração predatória, sem observação ou sequer preservação da mata.Se os governantes não têm essa competência ou não a desejam desenvolver, por que razão o germe da investigação nunca está presente na alma dos brasileiros? Será uma questão de cultura do nosso povo?
Deixando de lado a pena que nos causa essa humildade e inércia imprestável ao progresso,  por vezes, há um ímpeto de aprovação na atitude estrangeira em levar nossa matéria-prima, uma vez que nesses países há um espírito de trabalho e investigação que resultam em invenções em benefício de toda a humanidade. Tivesse a borracha ficado apenas no Brasil, tenham a certeza de que ela estaria extinta e nem pneus fabricados teríamos, tanto é que o mal  das folhas, uma doença que acometeu os seringais posteriormente  nunca foi pesquisada, a não ser por um botânico de nome Jacques Huber, diretor do museu Emílio Goeldi, entretanto, após sua morte, nada mais se fez. A preguiça mental e a falta de interesse no estudo é uma constante aqui no Brasil, um gigante sem força, dado a costumeira inércia de sua população. Na história do ciclo da borracha no mundo, em 1820, ela passou a ser usada na fabricação de capas impermeáveis e pouco mais tarde, o americano Charles Goodyear descobriu através seus incansáveis estudos a vulcanização que nada mais é do que a mistura do produto com enxofre e alvaiade, tornando-a elástica e resistente, servindo na época para a utilização em vestimentas, ou para envolver rodas de carruagens (meio de transporte) e carros na Europa. Mais tarde, em 1888, o também americano Dunlop inventou o pneumático.
 Quem já viajou, ou habita a região norte e seus estados e territórios têm conhecimento das terríveis febres palustres que podem levar à morte.
 O personagem principal do livro, cujo autor deseja exaltar, é José Plácido de Castro, um gaúcho de origem humilde da cidade de São Gabriel. Para tanto, utiliza a narrativa retrospectiva para a descrição dos capítulos, numa técnica que mescla passado e presente prendendo a atenção do leitor.
No início, introduz o personagem já adulto e na região acreana, acometido por perigosa febre palustre em estágio bastante avançado. Praticamente em meio à morte, ele vai relembrando toda a trajetória de sua vida em um delírio ocasionado pela doença.
O interesse de Plácido pelo território do Acre inicia-se na escola primária quando a professora começa mostrar à classe a imensa riqueza das florestas e seus perigos. Nesse período, perde o pai, fato comunicado por um vizinho, quase um estranho, que vem buscá-lo na escola. Desta forma, torna-se órfão e tendo que enfrentar a miséria econômica da família, fato que o obrigou como filho mais velho a abandonar os estudos na escola matutina para trabalhar como balconista-vendedor em uma loja de tecidos, passando a frequentar uma escola noturna, e fazendo as lições e estudos suplementares nas horas de folga. Passado algum tempo, o mesmo estranho que o buscara na escola por ocasião da morte do pai lhe oferece ajuda, prometendo custear seus estudos secundários em uma escola melhor, ao que aceitou prontamente.
Infelizmente não pôde continuar os estudos na nova escola, pois a mãe e os irmãos passavam por necessidades financeiras, vivendo na miséria, assim se emprega como aprendiz de ourives para poder sustentá-los.
E a partir deste momento, Plácido revela-se um homem impetuoso e destemido cujo maior sonho persiste em se tornar um militar.


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