sábado, 2 de março de 2013


Parte IV  - última parte    

 Comentando o livro Território de Bravos de Francisco Marins








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Como deve ser gratificante conseguir alcançar um objetivo após esforço próprio e muita luta. Luta contra diversos empecilhos: inimigos, animais selvagens, doenças. Só mesmo os bravos são capazes de realizar tal façanha. Uma pena que nos dias de hoje já não haja homens com este propósito tão determinado e coragem além da morte. Pobre da nossa geração, oprimida, controlada no corpo e na mente já não é capaz de enviar desafio algum. Psicologicamente dominada, já não lhe resta ideal pelo qual lutar. O famoso “pão e circo” representados pelo futebol, carnaval e outras festas populares já saciam todas as personalidades do mundo hodierno. Os facebooks da vida passam a impressão de uma falsa inserção e organização sociais; nunca o homem esteve tão isolado, solitário e sem objetivo.
A vitória em Volta da Empresa renovou os ânimos e impulsionou Plácido de Castro para continuar na luta, o próximo alvo seria agora Puerto Acre cujo delegado boliviano, temeroso envia uma carta ao presidente de seu país para que reconheça o poder do exército brasileiro e se renda entregando o Acre ao Brasil antes que ocorra um massacre dos soldados bolivianos, sem contudo obter resposta positiva. A guerra continua.
Por esse meio tempo, Plácido ainda não totalmente curado da febre palustre que o acometera, piora, mas não desanima  e comanda suas tropas de uma maca. Corre um boato da sua morte, o que ele desconhecia é que esta notícia fora espalhada por um soldado seu, um traidor entre seus comandados, que fingindo ser seu amigo o apunhalava pelas costas. Por que razão existem pessoas cuja fraqueza de caráter e ética maculam os bons ideais e luta dos dignos? Assim Plácido de Castro tem que reforçar o seu comando na guarnição de Bom Destino e encorajar seu grupo para que continue a luta e num esforço sobre humano vence em Iquitos e inicia uma caminhada de 16 dias retornando a Volta da Empresa de onde iniciaria o ataque a Puerto Acre, seu próximo alvo.
O inimigo que havia desanimado com a vazante nos rios, fato que impossibilitava o transporte de ajuda do exército americano e boliviano, ganha agora fôlego novo com as chuvas que aumentaram o nível das águas, mesmo apesar do sofrimento  com a falta de alimento e provisões.
Quando uma pessoa tem a nobreza de caráter e ética acima de tudo procede como esse herói brasileiro que por milagre conseguia vitórias consecutivas: avisava o inimigo do dia em que atacaria e ainda oferecia seu hospital improvisado para os possíveis feridos, convite  não  aceito pelos bolivianos.
Nesta empreitada, na primeira investida perde 50 homens, e o comandante do exército antagonista é ferido. Plácido comanda o ataque do antigo Afuá (barco tomado dos bolivianos, agora denominado Independência pelos brasileiros). O inimigo temendo a proximidade do nosso exército havia estendido uma corrente dentro das águas do rio de forma que navio algum poderia rompê-lo para aproximar-se. Mas a tática do comandante brasileiro é impecável, pois conseguem após muito risco e coragem destruir os elos da tal corrente e atacam agora maciçamente o inimigo.
Numa atitude covarde, o exército boliviano simula a paz, empunhando uma bandeira branca apenas para localizar a posição de Plácido e atingi-lo, mas a perspicácia e experiência impressionantes deste gaúcho pré-determinado descobrem a manobra conseguindo livrar-se a tempo.
No meio político, esta luta começa a incomodar os ânimos, a notícia da bravura dos brasileiros, sua persistência e vontade chegam aos ouvidos do Barão de Rio Branco que se indispõe com o presidente da Bolívia pela falta de patriotismo querendo entregar o território aos americanos, coisa que o Brasil não iria permitir. Ante tal decisão o governo boliviano resolve reforçar seu exército firme no propósito de derrotar Plácido de Castro. Finalmente, em contrapartida, o governo brasileiro resolve finalmente entrar na luta concentrando tropas do exército no Amazonas e Mato Grosso.
Todos esses fatos não chegaram aos ouvidos de Plácido e seus soldados uma vez que embrenhados na mata não contavam com nenhum meio de comunicação que os informasse. Além do mais, o rádio ainda não havia sido inventado. Começa por esse período  a descoberta de que um soldado de nome Alexandrino em suas tropas estaria ameaçando e se indispondo com os demais companheiros. Tomando conhecimento, o comandante repreende severamente este comportamento desleal do seu soldado,ganhando com esse ato um inimigo vil que agiria às ocultas.
Plácido consegue vencer todas as batalhas, o inimigo se rende finalmente e a curiosidade é grande, todos querem conhecer esse herói, tão brilhante líder  cuja bravura fora responsável pela vitória de seu exército, porém ao conhecê-lo surpreendem-se com um jovem de 29 anos, simples  que não os humilha e sim explica amavelmente a razão de sua luta: amor às terras brasileiras ameaçadas de serem perdidas e caírem nas mãos de capitalistas americanos.
É lavrado um documento de posse do território ao Brasil, O Tratado de Petrópolis, em 17-11-1903.
Tratando com descaso toda a luta empreendida por Plácido de Castro o governo brasileiro nomeia José Olímpio da Silveira como governador do Acre pagando com indiferença toda a luta sofrida e sacrifício empenhado.
Como se isto não bastasse para punir esse herói, ele é morto em uma emboscada na floresta empreendida pelo soldado Alexandrino, que há muito vinha planejando sua morte.
Após mais de um século da morte de Plácido de Castro, a situação se reverte. Muitos não dão o mérito ao caudilho alegando que ele nada fez, que a sua luta nada significou como força para anexação deste território ao nosso país. Afirmam também que o maior herói seria o Barão do Rio Branco que através da sua diplomacia conseguiu ampliar nossas terras em 32%. Quanto aos Estados Unidos, o intromissor crônico nas questões de posse de terra, foi indenizado em 110.000 libras pela quebra de contrato e despesas de advogado, negociação tática do mesmo barão astucioso.
Entretanto, fica uma certeza no ar: Quem arregaçou as mangas para lutar diretamente, conjuntamente com os seringueiros desenvolvendo estratégias de guerra? Quem enfrentou situações perigosas, lutando a despeito da doença demonstrando um espírito de coragem e ética e patriotismo a toda prova?
Há uma tendência a desmerecer nossos antepassados, destruir nossa história, denegrir nossos nobres descendentes e bravos lutadores em favor do Brasil disseminando a dúvida de possível construção lendária e mística de herói.
Porém,  o bom-senso há de nos guiar sempre, reconhecendo a coragem e o amor que estes valorosos brasileiros dedicaram a sua nação.