terça-feira, 7 de maio de 2013


Continuando a narrativa, cabe aqui mencionar que a má-índole que desrespeita a ética e agride os direitos humanos não ocorre apenas com religiosos, ela prolifera em todos os setores da nossa sociedade e tem causado inúmeros danos no decorrer do tempo...






O CRIME DO PADRE AMARO – PARTE II



Alguns dias antes da chegada em Leiria, Amaro escrevera ao cônego Dias solicitando-lhe que arranjasse  uma casa simples para ficar e o cônego interessado em arranjar uns tostões a mais para a sua amante, Sra. Joaneira, indica-lhe a casa elogiando-a na sua dedicação doméstica. Na verdade, a real intenção de Dias era dar menos dinheiro à mulher e assim resolvia-se o problema.
Finalmente, chega Amaro que é muito bem recebido por todos. Já na casa, simpatiza-se com Amélia à primeira vista e esta com ele. Era um rapaz jovem e bonito. Com o passar dos dias, essa amizade vai se transformando em amor mútuo. Desta forma, torna-se difícil disfarçar o que estavam sentindo um pelo outro e João Eduardo, antes o centro de atenção de Amélia, sente-se rejeitado e começa a sentir ciúmes daquelas conversinhas amigáveis entre os dois jovens. Amélia disfarçava bem seus sentimentos, mas apesar disso, João Eduardo sentindo-se ameaçado, resolve vingar-se de Amaro.Para tanto, consegue a aprovação do dono do jornal onde trabalhava para publicar um alerta às mães de família contra a falsidade dos padres que se escondiam atrás de uma batina para levar as moças à perdição.Citava também, casos de outros padres que possuíam amantes às ocultas e pela descrição que fazia de um deles não era difícil reconhecê-lo, tratava-se do Padre Brito,  amante da mulher do administrador de sua igreja.
O escândalo levantado pelo artigo faz com que o padre Brito seja mandado embora de Leiria para outra freguesia, a fim de evitar consequências piores para o nome da igreja. Por sua vez, o Padre Natário, sempre blasfemador e grosseiro, queria resolver a ofensa na pancada. Quanto a Amaro que já havia beijado Amélia no pescoço quando passeavam por um sítio, achou mais prudente mudar-se daquela casa e pede ao cônego que lhe ache outra para morar. Assim, ele sai dali entre lágrimas da Sra. Joaneira e de sua filha que o adoravam. Durante o período em que ali vivera, no recato do seu quarto, Amaro ocupava-se apenas com pensamentos mundanos a respeito da jovem, como o momento em que ela se despia, nos seus seios e outros mais libidinosos achando que ela devia trocar seu atual confessor por ele, pois só assim teria oportunidade de ficar a sós com ela e poder dizer o que sentia sem ser percebido.
Quanto ao cônego, Amaro já o havia flagrado aos amores com a Sra. Joaneira e julgou-a assim como sua filha como gente de mau-caráter, num primeiro momento. A nova casa de Amaro é fria, sombria sem a alegria da anterior, tem uma criada desleixada e o padre resolve se afastar uns tempos da antiga casa para a tristeza de Amélia que o esperava todas as noites em vão. Por esse tempo, João Eduardo recebe um cargo no governo civil e resolve pedir a mão de Amélia em casamento.Quem recebe a notícia é a mãe, que toda radiante a transmite à filha. A princípio, a moça recusa-se a aceitar o pedido, mas raciocinando melhor, vê nisso uma segurança para o seu futuro, depois a mãe não era para sempre e o padre ela poderia continuar encontrando às escondidas.
Revela-se aqui, a pouca retidão de caráter da moça que tencionava casar-se e enganar o futuro marido. A notícia do casamento de Amélia caiu como uma bomba sobre Amaro que tentava a todo custo terminar com aquela estória, precisava livrá-la disso, porém carecia de um bom motivo e ele veio: o padre Natário descobre o autor do artigo que manchou o nome do clero e numa reunião entre eles combinam que irão desmascará-lo. Para isso,  iria até a direção do jornal e esclarecer o fato diretamente com o dono e pressioná-lo. O Sr Godinho era conhecido  pelo seu caráter de falsidade e assim sendo, não iria apoiar o redator do artigo. Quanto a Amaro ficou estabelecido de que ele ficaria encarregado de dissuadir Amélia do casamento, convencendo-a de que aquele não seria um bom marido, uma vez que a difamara em um jornal sugerindo que ela era amante de um padre. E o melhor argumento: ele ofendera um representante de Deus sem prova concreta alguma, portanto um excomungado. Conforme sabiam, a moça criada sobre fortes princípios religiosos não aceitaria um homem assim como esposo. Em seguida, após tentar o plano com Amélia, Amaro vai ter com Dna. Josefa, irmã do cônego que era madrinha da moça, pedindo-lhe que reforce esta tese junto à moça, plano  que surtiria o efeito desejado.
Após o fato, Amélia escreve uma carta ao noivo terminando tudo. O infeliz do moço dirige-se a um bar e juntamente com um amigo de ideais republicanos que ali encontrara, bebe até o amanhecer... Ao sair do bar, depara com Amaro e lhe acerta um murro de raspão, fato que o leva ao administrador da cidade, homem que na maior parte do tempo se ocupava em olhar com binóculos a mulher do alfaiate Teles.
Temendo, porém que o caso chegasse até os superiores da igreja, Amaro resolve perdoar seu agressor, ganhando assim mais glória entre seus fiéis que o compararam a Cristo a oferecer a outra face...
 Quanto a João Eduardo, humilhado e sem moral alguma, não lhe restou alternativa senão ir embora dali, deixando o caminho livre para o padre que volta a frequentar a antiga casa e quando uma das moradoras antigas, uma velha entrevada, morre é ele quem vai prestar-lhe a extrema-unção. Aproveitando-se da presença de todos ao redor da moribunda, dedicando-lhe os cuidados finais, Amaro aproveita-se para abraçar e beijar Amélia junto à lareira. Assim que a velha morre, a moça passa a se confessar com o jovem padre, conforme conselhos da madrinha, e no confessionário eles combinam seus encontros clandestinos na casa de tio Esguelhas, um velho sineiro, pai de uma moça paralítica e louca (Totó) que ficava presa a uma cama. Com o pretexto de ajudar a pobre moça a ler para estudar a Bíblia, Amélia passa a visitar regularmente a casa acompanhada de Amaro, cujo real intuito era formar a moça para que ela se tornasse freira, e esta foi a desculpa dada ao pobre tio Esguelhas para que deixasse o quarto sempre bem arrumado para este fim. E também a solicitação do retiro espiritual que necessitavam para esse estudo, fato que fazia com que o velho se retirasse e os deixasse sós...