quinta-feira, 13 de junho de 2013

Continuando a narrativa...

EURICO , O PRESBÍTERO - PARTE II


Ante a morte do pai, Hemengarda fica desprotegida e é levada a um convento, pois julga-se que ali ela ficará a salvo da violência peculiar dos árabes. O irmão dela, Pelágio, em defesa da Espanha à frente de um exército como capitão gótico, encarregara um amigo de levar a irmã a esse lugar santo onde as monjas castas faziam oração a Deus. Várias outras pessoas de origem goda também para lá se dirigiram em busca de refúgio.
Perdendo sucessivas batalhas e consequentemente suas terras, os godos ficam na mão do exército árabe que decide tomar o mosteiro. Um dos traidores dos godos vem avisar aos góticos que aos árabes interessam os tesouros que se achavam guardados no interior do mosteiro e as virgens que ali se abrigaram, que seriam propícias para saciar os desejos sexuais dos guerreiros há tanto tempo longe de casa e que trocariam a liberdade dos povos que ali se refugiaram se conseguissem o seu intento sórdido.
Quando recebe essa notícia, abalado o rei visigodo Atanagildo não quer concordar, mas o derramamento de sangue talvez inútil, dado a habilidade e fúria do exército inimigo, faz com que retroceda e concorde com a troca, uma vez que a monja principal do convento lhe aconselha a aceitar, pois haveria muita desgraça inutilmente.Desta forma, abrem-se os portões do mosteiro, o povo é libertado ficando apenas as monjas e as virgens indefesas à mercê de sua sorte. Aquelas trancam-se num porão e à portas cerradas vão rezando incluindo Hemengarda que se recusara a fugir com seu escravo em solidariedade às religiosas.
Na iminência da derrubada da enorme porta, a madre superiora vai degolando as irmãs uma a uma para que não sejam desonradas pelos árabes. Estes, prestes a adentrar ao salão impacientes e incrédulos com o que vêem tentam derrubar as grossas madeiras. Quando a madre se prepara para dar o mesmo fim a Hemengarda que já se conformara com o seu destino, o pesado madeiro cai sobre a pobre freira matando-a imediatamente. Hemengarda é levada pelos inimigos como escrava, pela sua rara beleza serviria os desejos do amir em sua tenda.
Desde o momento da saída que a moça não parava de chorar, assustada e desolada temendo o que lhe estava por vir. Assim que chega à tenda pede ao amir que a deixe chorar e isso acontece em dois dias consecutivos. Enquanto isso acontece, o escravo escudeiro da moça vai até o irmão dela, Pelágio, e lhe informa do sucedido. Ele se revolta e prepara-se para resgatá-la quando recebe um recado do fantástico cavaleiro negro, Eurico que também soubera do acontecido e tomou para si a obrigação de salvar sua amada, pois nunca a esquecera de fato. Assim, proíbe Pelágio de tomar qualquer atitude e convoca doze cavaleiros guerreiros sem família que sob o seu comando resgatariam Hemengarda.
Há nesse romance um aroma de novela de cavalaria, o sabor da aventura de capa e espada cuja ação é constante e prende o leitor para que saboreie sempre o próximo episódio.
Nesse ínterim, na tenda do amir, Hemengarda indefesa e assustada está prestes a ser possuída quando repentinamente, Eurico disfarçado de cavaleiro negro subitamente invade o local saído do nada e o fere quase que mortalmente. Põe fogo na tenda, resgata a amada e com ela foge em seu cavalo por montanhas íngremes e escarpadas. A moça não pode reconhecê-lo uma vez que o elmo e a túnica negra o impedem.
A fuga é narrada com bastante veracidade, os árabes em perseguição dos godos. Em determinado momento, Eurico detém-se para lutar com o inimigo e pede aos outros guerreiros que levem Hemengarda à gruta da montanha, o esconderijo de Pelágio para que ela ficasse a salvo. E a luta encarniçada continua...


UMA REFLEXÃO DE ALEXANDRE HERCULANO, MARAVILHOSA POR SINAL, SOBRE A MORTE:


"Era a hora em que o homem está recolhido nas suas mesquinhas moradas; em que pelos cemitérios o orvalho se pendura do topo das cruzes e, sozinho, goteja das bordas das campas, em que só ele chora os mortos.
As larvas da imaginação e o gear noturno afastam do campo-santo a saudade da viúva e do órfão, a desesperação do amante, o coração despedaçado do amigo.
Para se consolarem, os infelizes dormiam tranquilos em seus leitos macios!...Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte. Hipócritas dos afetos humanos, o sono enxugou-lhes as lágrimas."

(Uma reflexão do autor no romance que apesar de se encaixar nas tendências da escola romântica, muito traz do realismo ao descrever sentimentos humanos).