quarta-feira, 26 de junho de 2013


Retorno hoje às reflexões sobre o nosso mundo e sobre tudo o que nos rodeia, as contradições que a vida nos apresenta diariamente...



Serei uma ilha?


Apesar de todas as afirmações sobre a suposta tendência do homem de se inserir em um grupo qualquer, muitas controvérsias ainda são palpáveis, mais do que isso, revelam a certeza de que há um imenso desejo escondido no âmago de cada ser humano que usa seu cérebro: o predomínio da individualidade sobre o social.
Principalmente num momento em que não há mais o respeito necessário aos direitos e sentimentos, onde o egoísmo, a vaidade e a superficialidade são os principais traços presentes nas personalidades que se forjaram no mundo capitalista, alguém que tenha o mínimo de discernimento e inteligência não tem a menor probabilidade de se engajar em qualquer movimento coletivo.
Mas... Somos uma grande tribo, uma aldeia global... O velho chavão que a muitos aderiram, realmente só se casa bem com aqueles cuja personalidade deixou de se destacar, para como uma vaquinha de presépio, balançar a cabeça e aceitar tudo padronizando e adequando o seu modus vivendi a um modelo moderninho, que de tão usado transformou-se em uma uniforme e surrada maneira coletiva de viver...
Analisando estes padrões comportamentais, chega-se à conclusão de que é praticamente impossível aceitar cidadãos egocêntricos que desrespeitam grosseiramente os direitos dos outros. Seres que egoisticamente só usam a primeira pessoa do pronome em seus diálogos, supervalorizando apenas suas experiências sem sequer ter ouvido ou a delicadeza necessária para escutar o outro lado, ignorando seu par como se ele não existisse, ou sua vida nada valha perante suas dores que sempre são as maiores do mundo: se têm alguma doença, é sempre a pior, se sofrem alguma dificuldade financeira ou no trabalho é sempre inigualável, se têm uma estafa ou stress, são as maiores catástrofes narradas monotonamente em descrições intermináveis e insuportáveis.
São pessoas totalmente desagradáveis, pequenos monstros criados, que nunca estão satisfeitos, por mais bens que possuam, por mais lazer que tenham sempre são as vítimas, os eternos sofredores e os únicos verdadeiros trabalhadores que se matam de labutar e trabalham muito mais do que os outros.
Aliada a essa grande qualidade acima referida vem a segunda, não menos horrorosa: o superficialismo. São vidas cuja pobre existência é centrada em aparência física e econômica: assim que te veem a primeira coisa em que reparam é se você engordou, envelheceu, e coisas do tipo. E não satisfeitos em sua análise boçal ainda tem a coragem de verbalizar a falta de educação e traquejo, jogando no colega, ou melhor, no adversário, porque é nisso que transformam seus colegas e amigos, toda a sorte de comentários imbecis deixando transparecer o desprezo que sentem por aqueles que não revelam a aparência física socialmente aceita pelos idiotas atuais que se matam em academias para definir o corpo, ou definham em eternas dietas para manterem a forma almejada para fazerem parte de um grupo ridículo e antinatural. Em nome dessa aparência física coisas horríveis são feitas: aplicações de botox que transformam rostos e corpos normais em aleijões, tal o exagero no sentido de eliminar rugas e esticar a pele. Implantes dentários que exibem inexplicavelmente em rostos envelhecidos dentes exageradamente brancos que destoam do resto do visual. Do mesmo modo, preenchimento com silicone e outros produtos querem mostrar órgãos avantajados de qualquer maneira, sem se importar com o porte físico e a hereditariedade. Tudo isso aliado a um consumo de medicamentos de alto custo para esculpirem músculos ou o uso de cosméticos caríssimos para alcançarem seu intento. E ai daqueles que não entram nesse esquema! São ridicularizados, julgados como os piores dos mortais, pessoas relaxadas que não cuidam da aparência, mesmo que  para isso precisem correr risco de vida.
Alguns grupos lançam-se a religiões castradoras que através de falsos moralismos julgam todos os seres humanos que não seguem o seu ideal. Esses acéfalos usam redes sociais para divulgarem frases bíblicas e bordões posicionando-se como superiores, os únicos a serem salvos num possível juízo final que nem sabem se acontecerá, esquecendo-se dos seus próprios familiares, vivendo praticamente todos os dias de sua existência no interior de igrejas que efetuam verdadeira lavagem cerebral deixando-os robotizados, pessoas inconvivíveis, que nada questionam e a tudo aceitam desde que vindo de um dirigente ou líder religioso.
Sou observadora, convivo diariamente com centenas de pessoas em minha profissão e vivencio ali todos esses comportamentos terrivelmente nocivos e inaceitáveis: a primeira coisa em que fixam a atenção é em roupas e acessórios como celulares e outros eletrônicos. Para esses, de nada vales se não há uma grife conhecida em tua indumentária, excluindo injustamente do seu convívio aqueles que não correspondem ao padrãozinho de vida exigido atualmente... Eu pergunto, há alguém em sã consciência que queira conviver com tamanha mediocridade e se tornar um deles?
Como o homem pode ter emburrecido tanto com o passar dos anos? A bandeira da miséria espiritual em que o ser humano se inseriu é muito pior do que a pobreza econômica, pois ela revela no seu íntimo uma transformação moral degradante e totalmente injusta.
Quantos latrocínios não são feitos por esse motivo, quantos problemas sociais e baixa-estima são gerados por esses debiloides que se sentem superiores a todos. Se vão a uma apresentação de teatro, dança ou outra, não é pelo valor cultural, porém para serem notados e admirados pela sua “curtura”. Se fazem viagens, o motivo é sempre nessa maldita sociedade emergente adquirir status de pessoa antenada, conhecedora do mundo que vale mais do que os outros, ainda que não saiba nada de história ou da geografia daqueles países que visita e nem quer saber, pois não tem inteligência para isso.
Estamos convivendo com grandes manifestações de uma massa insatisfeita com o sistema político vigente, o apoio da mídia e das religiões é visível. Entretanto, quem garante que estes movimentos não são manipulados por terceiros cujos objetivos não são revelados, mas que têm sede ambiciosa de poder? Não temos cidadãos e pessoas conscientes e respeitadoras que justifiquem essa união, alguém que saiba reivindicar por si só, temos sim uma legião de teleguiados, levados por correntes ocultas e covardes que não têm a intenção de identificar-se, o que nos dá a certeza de que essa organização não partiu do cidadão comum, tão alienado e distante da realidade nesse momento social em que vivemos.
A prova disso é que ninguém questiona nesses protestos a falta de liberdade que temos nos dias de hoje, todos preferem dizer que vivemos uma democracia, quando na verdade, temos uma falsa liberdade, nem podemos expressar livremente nossas opiniões, temos uma sociedade fracionada em pequenos grupos que são instigados constantemente a se antagonizarem, o ódio vem sendo cultivado colocando um ser humano contra outro, ao invés da promoção da união.
O envelhecimento é um processo natural na vida humana, contudo não é aceito atualmente, tenta-se a todo custo mudar a natureza com medidas agressivas e artificiais. Infelizmente, não há como evitar a morte, ela chega para todos, até para aqueles que quiseram forçosamente ter aparência eternamente jovem esquecendo-se de desenvolver e amadurecer o cérebro adequadamente.
Se para não ser uma ilha um homem precisa juntar-se a um arquipélago de tolices e disparates, melhor o isolamento e a certeza de sentir-se bem amado e protegido por um só ego, mas que seja saudável e digno.