terça-feira, 9 de setembro de 2014

Boa-noite. Os dias estão voando, nos aproximando do final do ano. Ando atarefada, sem tempo de escrever, uma das coisas que mais amo fazer. Minhas postagens antes semanais vão ficando quinzenais,às vezes até mensais. Fazer o quê? É a vida e suas atribulações... Mas vamos lá!


ACREDITAR POR QUÊ?






Já fui crédula, já confiei em tudo e em todos, por isso quem me vê hoje, um poço de ceticismo e desconfiança, não consegue acreditar que nem sempre foi assim.
Os episódios que se sucedem dia após dia são os grandes responsáveis por essa atitude de incredulidade perante os fatos. Outrora, usava ter uma postura de pouca criticidade diante dos programas de televisão e outras mídias, mas a experiência e convivência com pessoas desse meio que passaram a narrar o grande "teatro" que se esconde por detrás dos quadros e reality shows foram abrindo meus olhos fechados para esse aspecto e quando eles se abriram nunca mais voltaram a se fechar.Como educadores, sabemos que quando aprendemos algo, assimilamos e fazemos a tal transferência de aprendizagem. Assim, tudo o que vem da mídia passa por um crivo de suspeita e investigação constantes e isso se estende a reportagens, sejam elas criminais ou  estatísticas, de entrevistas ou de documentários... Sempre aquele espírito de detetive implícito no ar me impele a desacreditar, e mais: a indignação sempre presente ao verificar a grande corrente de crédulos  e confiantes que acreditam em tudo o que veem numa atitude inocentemente infantil.
Já fui religiosa, crente em um poder superior, benéfico e protetor cujo sentimento ficou perdido ao constatar a voracidade do destino e do acaso onde a inércia do poder divino deixam adoecer e morrer puros e inocentes em plena juventude, muitas vezes em guerras incompreensíveis onde o matar é lei; por outras ocasiões ao ver religiosos endinheirados na corrida do ouro, construindo templos poderosos num paradoxo ante a humildade que tanto apregoam, usando meios de comunicação de massa para perpetuar seu poder através de preceitos idiotas que transformam os seres humanos em escravos abduzidos até o final de seus dias.
Da mesma forma, acreditei em pátria, em um torrão natal acolhedor administrado por pessoas dignas que realmente o amavam, preservavam a cultura da nação, mas ao constatar que até mesmo a língua, a expressão primeira de representatividade de um povo é diariamente corrompida, deflorada a cada instante, sinto-me como perfeita idiota que muitas vezes entre lágrimas de emoção entoou seu hino ante a bandeira considerada o mais sublime símbolo de amor.Hoje mesmo, me detive por alguns instantes a refletir no interior de meu carro em um congestionamento monstro nas proximidades do Expo center Norte causado por um evento: Beauty Fair! Porém, por que maldita razão não denominamos Feira de Beleza? Os ridículos cidadãos brasileiros enrolam sua língua para reproduzirem orgulhosos a expressão em inglês... Mas, não estamos no Brasil? Não se enganem, nada mais é nosso, não cuidamos, abrimos descaradamente as portas de nossa casa para a entrada da mais sórdida escória da espécie humana que levaram tudo o que nos pertencia comprados com dinheiro e poder. Lembrem-se de quantos outros termos da língua inglesa, "a melhor", desvirginaram a linguagem de países sem personalidade e dignidade como o nosso que ainda mostra orgulho desse fato...Na própria malfadada feira encontramos as expressões: Talk show, merchandising, workshop, e-commerce dos quais os imbecis tentam aprender a pronúncia para "ficarem bem na fita", mesmo desconhecendo o significado, sem perceber que há muito deixaram de ter autonomia em seu próprio país.
Ainda querem que acredite na "última flor do Lácio, inculta e bela" de Olavo Bilac? Há ou não motivos para não acreditar em mais nada? Nem Lácio os cidadãos desse país sabem o que seja, nem de Olavo Bilac há lembrança hoje em dia,  nem integridade de língua temos mais...
Acreditei na amizade, verificando que a falsidade, a inveja prosperaram de forma superior sufocando os bons sentimentos hoje, cafonas e superados pela superficialidade dos relacionamentos virtuais, muito mais valorosos e modernos...No que mais querem que acredite? Se alguém puder te derrubar, puxar seu tapete para se promover, creia, isso acontecerá!
Não há como confiar em jogos de loteria, por exemplo, com suas inúmeras acumulações de prêmios. Como isso pode ocorrer se dantes quando a população era mais escassa e portanto, menos jogos e probabilidades havia,  nunca esse fato ocorria...No momento atual, com muito mais probabilidades de acerto ninguém ganha um jogo antes de inúmeros acúmulos de valores que soam mais como uma propaganda para pegar trouxas,e como pegam! Inúmeras pessoas acotovelam-se em filas nas exíguas lotéricas para tentar a sorte de milhões de reais, cujos ganhadores assemelham-se a fantasmas pois nunca são vistos, culpa da marginalidade. Será verdade?
Não há mais como acreditar em resultado de esportes, jogos, corridas de carro e outras armações mais, cujos escusos interesses econômicos como pano de fundo apagam qualquer sombra de credulidade que possamos ter. Pelo mesmo motivo, não há como ter confiança em eleições e candidatos a cargos políticos que apenas farão o que lhes é permitido fazer, morra  quem morrer, na sarjeta, perdido em drogas ou álcool, vemos diariamente a miséria estampada aos quatro cantos da cidade como que a reproduzir as cenas de Victor Hugo em "Os Miseráveis" pobres mortais que subvivem embaixo de pontes e viadutos numa cena deplorável, um retrato de onde chegou a dignidade humana e ninguém é capaz de resolver esse problema que a cada dia cresce mais. Não há verba para tanto, entretanto construímos estádios e prédios inúteis em detrimento da honra.
O ser humano se tornou altamente corrupto, insensível  por dinheiro e  poder e esse fato construiu uma legião de incrédulos como eu. É só olhar ao redor...