quinta-feira, 12 de março de 2015

Dia atribulado, muito trabalho e aulas para dar...Quando me levantei pela manhã, lembrei-me de você, hoje faz exatamente 17 anos que não mais te vi. Por alguns instantes, fiquei pensativa, saudosa e triste pela perda...





Nuvem passageira que deixou marca





Todos os anos, consecutivamente, em todos os doze de março, sinto um aperto no coração e as lembranças tristes que me calaram na alma e que estarão presentes para sempre em meu ser, voltam por momentos, operando em mim uma transformação.
Nestas horas, ocorrem voltar a minha mente, o desespero causado pela notícia de sua súbita partida, a Ave-Maria plangente de Gounod interpretada ao piano, cujas teclas banharam-se em lágrimas como forma de oração. E após, longos dias e noites de lembranças infinitas e sofridas.
O tempo, no entanto não para, e como já dizia, nosso querido Mário Quintana em sábias palavras: "O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo", volto a folhear as páginas já amareladas da minha vida, em cenários onde a sua presença era constante; momentos doces, musicais, afetivos, tristes, mas duradouros.
Hoje, já me esforço para relembrar uma passagem nova dum passado longínquo e intocável, que me escapa como uma nuvem levada pelo vento...
E muitas lembranças embaralham-se e invadem meu pensamento como aquelas em que treinavas em frente ao espelho simulando uma situação de venda de algum produto, afinal trilhaste sua estrada sempre pelo mesmo caminho, com o entusiasmo de uma criança que planeja obter o mais sonhado brinquedo. Já vendeste de tudo em sua vida: de prendedores a ferramentas, relógios, artigos de época, (ainda guardo alguns exemplares de produtos natalinos que vendias, não tive coragem de me desfazer deles) e tantas outras coisas...Nessas ocasiões, parece que te vejo a impostar a voz, simulando um interlocutor inexistente, algumas vezes pedindo-me para que o representasse. E depois, ríamos muito de tudo aquilo...Não  ocorria na minha ingenuidade infantil que o super-herói pudesse estar assim agindo para eliminar seus medos no sentido de conseguir o tão sofrido pão do sustento familiar...Oh! que doces dias e noites eram aqueles que compartilhávamos em trocas tão significativas que constituíram nossa existência de pai e filha.
Por vezes, para me ver feliz, um LP do cantor preferido, sabe lá com que sacrifício me ofertava e, sentado a meu lado, abraçando-me carinhosamente ouvia compenetrado várias melodias! Você sabia como me fazer feliz!
Em outros tempos, ensaiava interpretar uma música que eu ou meu marido tocávamos ao violão, com uma voz não digo tão desafinada, mas fora do ritmo e do tempo, e como nos divertíamos!
Ultimamente, anos antes de tua partida, seu fardo tornara-se por demais pesado e apesar disso, não lhe arrancara totalmente o sorriso dos lábios que sempre tinham uma palavra de conforto e incentivo a todos revelando uma elevação espiritual a qualquer prova...
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A fugacidade do tempo, o excesso de trabalho não permite que visite o lugar onde seu corpo descansa infinitamente rodeado de altas e silenciosas árvores cuja sombra evolvem todo o ambiente.
Para mim, foste como tudo na vida, nuvem passageira, da bonança, fraternidade e esperança.
Parece termos passado tão pouco tempo juntos, apesar do longo período de convivência familiar, e, a partida da casa paterna exigida pelo casamento trouxe uma ruptura daquela proximidade costumeira que tínhamos.
Nuvem passageira, levada pelo vento sua imagem vai pouco a pouco sumindo, tornando-se invisível, embora lute para que isso não ocorra...
A despeito da efemeridade do tempo, a importância do que significou para mim, jamais deixará de existir e há de me acompanhar até o fim...