domingo, 11 de setembro de 2016



Nem todas as cidades têm o poder de calar fundo como esta...



SAUDADES DE OURO PRETO







Quando o automóvel saiu pela última rua da cidade para ganhar o caminho de volta, eu chorei...
Confesso, chorei, após passar três dias maravilhosos em Ouro Preto, Minas Gerais, em minhas últimas férias de julho. O olhar embaçado pelas lágrimas e meus olhos fotografaram a última igreja próxima ao centro, com sua alvenaria coberta de musgos e seus portais vetustos...
Ouro Preto é pura história do nosso país, com mais de 300 anos, guarda em seu seio momentos fortes, de audácia, heroísmo e morte. Em seus museus, compartilhamos com emoção cada fato ocorrido durante a Inconfidência Mineira, voltamos ao passado, visualizando objetos do valoroso mártir da independência, cruelmente enforcado e, na praça que hoje tem seu nome, um monumento para que o valoroso brasileiro jamais seja esquecido...
Ver o simples relógio de bolso que a ele pertenceu, causa arrepio e uma sensação um tanto desconfortável, dado às circunstâncias e a violência a ele imputadas. A folha manuscrita da sentença de morte, então, é algo assustador na frieza das palavras insensivelmente ali grafadas: “Que seja enforcado, sua cabeça separada dos membros e expostas pelos postes de Vila Rica, e que seus bens sejam confiscados, sua casa arada e salgada”, soa pretensiosamente cruel no momento presente...
A carga emocional que vai se ganhando a cada rua de Ouro Preto, é surpreendente: a cada igreja, um cantinho tão antigo, tão próprio da época; a decoração, os retábulos, altares e imagens que apesar de não poderem ser tocadas, refletem o sacrifício do mestre Aleijadinho, em seu trabalho sofrido e valoroso de perfeição e  beleza sem iguais...
Pinturas de mestre Athayde, a feirinha de pedra-sabão, as ladeiras de pedra conservadas até hoje...
A casa de Tomás Antônio Gonzaga! Que beleza na simplicidade! Nada mais do que o necessário, da pureza da madeira dos móveis, à amplitude das salas e espaços confortáveis, tão diversos dos exíguos apartamentos da cidade grande... A solidez das paredes e os singelos versos de amor nela impressos de Dirceu ao grande e eterno amor, Marília. Algo comovente que toca o fundo do coração daqueles que ainda usam sua sensibilidade e a praticam.
As fontes de pedra-sabão espalhadas pelas ruas... O museu de mineralogia, o observatório antigo que mostra uma lua quase tocável, amiga que expande seus raios por sobre a cidade à noite...
As pousadas simples, mas aconchegantes que guardam séculos de história em suas paredes... E muitas coisas mais, fazem com que essa cidade e toda sua arquitetura colonial entrem em nosso espírito e ali fiquem guardadas para sempre, exigindo a nossa volta obrigatória algum dia, não se sabe quando...
Amei Ouro Preto, assim como amo sua música, Saudades de Ouro Preto, porque,  tal como falam, há ali,  uma profusão de fluídos que nos faz viajar no tempo, maculados apenas pela entrada de automóveis atualmente, nas ruas.
Visitar essa cidade é uma obrigação para nós, brasileiros, no sentido de valorizar nosso passado histórico, conhecer mais sobre ele, e sobre as pessoas que por ali passaram e deixaram como contribuição para a construção do país, a sua própria vida.
* Tiradentes não foi enforcado em Ouro Preto, segundo algumas fontes, mas no Rio de Janeiro. Outros ainda alegam que ele não tenha sido enforcado, que houve outro em seu lugar. Muitas fontes afirmam que ele foi morto na Praça Tiradentes em Ouro Preto...